I- NARRAÇÃO
Narrar é contar um fato, um episódio; todo discurso em que algo é CONTADO. Possui os seguintes elementos que, fatalmente, surgem conforme um fato vai sendo narrado: A representação acima quer dizer que, todas as vezes que uma história é contada (é NARRADA), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a AÇÃO: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, maioria dos VERBOS que compõem esse tipo de texto são os VERBOS DE AÇÃO.
O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto, recebe o nome de ENREDO.
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas PERSONAGENS, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que está sendo contado ("com quem?" do quadro acima). As personagens são identificadas (=nomeadas) no texto narrativo pelos SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem querer) ele acaba contando "onde" (=em que lugar) as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações é chamado de ESPAÇO, representado no texto pelos ADVÉRBIOS DE LUGAR.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer "quando" ocorreram as ações da história. Esse elemento da narrativa é o TEMPO, representado no texto narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente pelos ADVÉRBIOS DE TEMPO. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor "como" o fato narrado aconteceu.
A história contada, por isso, passa por uma INTRODUÇÃO (parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo DESENVOLVIMENTO do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o "miolo" da narrativa, também chamada de trama) e termina com a CONCLUSÃO da história (é o final ou epílogo).
Aquele que conta a história é o NARRADOR, que pode ser PESSOAL (narra em 1a pessoa: EU...) ou IMPESSOAL (narra em 3ª. pessoa: ELE...).
Em suma, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada.
II - DESCRIÇÃO
Descrever é CARACTERIZAR alguém, alguma coisa, ou algum lugar, através de características que particularizem o caracterizado em relação aos outros seres da sua espécie.
Descrever, portanto, é também particularizar um ser. É "fotografar" com palavras.
Por tal motivo que, nos textos descritivos, os tipos de verbos mais adequados (mais comuns) são os VERBOS DE LIGAÇÃO (SER, ESTAR, PERMANECER, FICAR, CONTINUAR, ANDAR, PARECER), pois esses tipos de verbos ligam as características - representadas linguisticamente pelos ADJETIVOS - aos seres caracterizados - representados pelos SUBSTANTIVOS.
Exemplo: O pássaro é azul.
1. Caracterizado: pássaro
2. Caracterizador ou característica: azul
3. O verbo que liga 1 com 2: é
Num texto descritivo podem ocorrer tanto caracterizações objetivas (físicas, concretas), quanto subjetivas (aquelas que dependem do ponto de vista de quem descreve e que se referem às características não-físicas do caracterizado).
Exemplo:
Paulo está pálido (caracterização objetiva), mas lindo! (caracterização subjetiva).
III- DISSERTAÇÃO
Além da narração e da descrição há um terceiro tipo de redação ou de discurso: a DISSERTAÇÃO.
Dissertar é refletir, debater, discutir, questionar a respeito de um determinado tema, expressando o ponto de vista de quem escreve em relação a esse tema.
Dissertar, assim, é emitir opiniões de maneira convincente, ou seja, de maneira que elas sejam compreendidas e aceitas pelo leitor; e isso só acontece quando tais opiniões estão bem fundamentadas, comprovadas, explicadas, exemplificadas, em suma: bem ARGUMENTADAS (argumentar = convencer, influenciar, persuadir).
A argumentação é o elemento mais importante de uma dissertação. Embora dissertar seja emitir opiniões, o ideal é que o seu autor coloque no texto seu(s) ponto(s) de vista como se não fossem dele, e sim, de outra pessoa (de prestígio, famosa, especialista no assunto, alguém...) - de maneira IMPESSOAL, OBJETIVA e sem prolixidade ("encher linguiça").
Desta maneira, a dissertação deve ser elaborada com VERBOS E PRONOMES EM TERCEIRA PESSOA.
O texto impessoal soa como verdade e, como já citado, "fazer crer" é um dos objetivos de quem disserta.
Nesse tipo de texto, as ideias devem ser colocadas de maneira CLARA E COERENTE, além de serem organizadas de maneira LÓGICA:
a) O elo entre pontos de vista e argumento se faz de maneira coerente e lógica através das CONJUNÇÕES (=conectivos) - coordenativas ou subordinativas, dependendo da ideia que se queira introduzir e defender; é por isso que as conjunções são chamadas de MARCADORES ARGUMENTATIVOS.
b) Todo texto dissertativo é composto por três partes coesas e coerentes: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO.
A introdução é a parte em que se dá a apresentação do tema, através de um CONCEITO (e conceituar é GENERALIZAR, ou seja, é dizer o que um referente tem em comum em relação aos outros seres da sua espécie) ou através de QUESTIONAMENTO(S) que ele sugere, que deve ser seguido de um PONTO DE VISTA e de seu ARGUMENTO PRINCIPAL.
Para que a introdução fique perfeita, é interessante seguir esses passos:
1. Transforme o tema numa pergunta;
2. Responda a pergunta (e obtém-se o PONTO DE VISTA);
3. Coloque o porquê da resposta (e obtém-se o ARGUMENTO).
O desenvolvimento contém as ideias que reforçam o argumento principal, ou seja, os ARGUMENTOS AUXILIARES e os FATOS-EXEMPLOS (verdadeiros, reconhecidos publicamente).
A conclusão é a parte final da redação dissertativa, onde o seu autor deve "amarrar" resumidamente (se possível, numa frase) todas as ideias do texto para que o PONTO DE VISTA inicial se mostre irrefutável; ou seja, seja imposto e aceito como verdadeiro.
Antes de iniciar a dissertação, no entanto, é preciso que seu autor:
1. Entenda bem o tema;
2. Reflita a respeito dele;
3. Passe para o papel as ideias que o tema lhe sugere;
4. Faça a organização textual (o "esqueleto do texto"), pois a quantidade de ideias sugeridas pelo tema é igual à quantidade de parágrafos que a dissertação terá no DESENVOLVIMENTO do texto.
Exercícios
1. Responda a que tipo textual – segundo a tradição – os textos abaixo se referem: texto narrativo, dissertativo ou descritivo.
TEXTO I
"Magra, ágil, elegante, Loló era feia de rosto, mas os olhos - somente os olhos! - grandes, imensamente negros, faziam-na bela. O pai era rico, era bastante rico; sua casa, recém construída, era a mais bonita da rua, branca, com os beirais azuis e um jeito de casa de boneca. "(Marques Rabelo)
"Na madrugada de terça para quarta-feira da semana passada, o francês Philippe Petit, ajudado por seis amigos, estendeu clandestinamente um fino cabo de aço entre os telhados das duas torres de 110 andares do World Trade Center, em Nova York; às sete horas da manhã, 400 metros acima de uma multidão aflita e de um trânsito congestionado por sua causa, o equilibrista atravessou os 27 metros que separam os edifícios. E quebrou o recorde da mais alta travessia em corda, conquistado em 1970 por Karl Wallenda, que se equilibrou numa altura de 225 metros. Logo após a façanha, sob suspeita de desequilíbrio mental, Petit foi conduzido pela polícia a um hospital psiquiátrico.” ("Veja", 08/74)
Texto III
A velhice é uma idade sagrada. Foi venerada em todos os tempos da História Humana: na Antiguidade, teve obséquios e cultos oficiais. Pode apreciar-se o grau de cada civilização histórica pelo respeito e pelo carinho dispensados a esses seres, de energia quebrada e de esperanças desfeitas em decorrência da proximidade da morte natural.
Nas sociedades em que o velho é ouvido, é respeitado, participa do mercado de trabalho, têm uma Previdência Social que os ampara com dignidade e justiça, tudo caminha bem: são os países de primeiro mundo.
No Brasil, no entanto, como em outros países de terceiro mundo, ser velho é ser inútil, é ser um estorvo, é ser incapaz e inválido. O velho não tem lugar nem na família, nem no mercado de trabalho. É desrespeitado em todos os lugares e por todo mundo. Ser velho, nessas sociedades tão atrasadas, não é substantivo: é adjetivo. E dos piores.
Em suma, conhece-se o grau de evolução de uma sociedade pelo tipo de tratamento que elas dão aos seus homens mais velhos e, por isso, mais sábios, mais experientes: as que os tratam bem estão a um passo de serem bem sucedidas no próximo milênio e na eternidade; as que os tratam mal têm seus dias contados, tem morte mais próxima do que os seus idosos cidadãos.
Definições
CONTO
Conto é uma breve e completa estória em prosa que pretende produzir um efeito singular (único) planejado pelo autor.
As características gerais são: poucas personagens bem descritas, poucos incidentes bem delineados e um breve motivo.
Há uma impressão única dada por todo evento, todos os elementos (personagens, ação, cenário) possuir, apenas um lugar, um tempo, uma emoção, um conflito.
A introdução estabelece o tom emocional e apresenta o conflito; a emoção, que normalmente em ficção apareceria depois, começa quase imediatamente; o “turning point” e o clímax estão quase juntos e, raramente, há lugar para ação descendente.
Deve haver economia de linguagem; os diálogos são penetrantes e convincentes, podendo ser: direto, indireto interior (monólogo interior); a narração e a descrição em reduzida quantidade, a dissertação, via de regra, é ausente.
O único efeito singular deve ter um traço característico intensificado, reação de acordo com a situação e um elemento dominante (personagem, incidente, cenário, atmosfera...).
Em suma, o conto é uma narrativa em prosa marcada por brevidade, conclusão e possui técnica específica (abertura clara – esclarecedora e curta), contendo um ininterrupto fluxo de ação e uma conclusão lógica.
CRÔNICA
Já a crônica é um dos mais antigos gêneros jornalísticos. No Brasil, surgiu há uns 150 anos, mais ou menos, com o Romantismo e o desenvolvimento da imprensa. A priori, com o nome de folhetim, designava um artigo de rodapé sobre assuntos do dia – políticos, sociais, artísticos, literários. Aos poucos, foi encurtando e afastando-se da intenção de informar e comentar.
Sua linguagem tornou-se mais poética, ao mesmo tempo em que ganhou certa gratuidade, pois parecia desvinculada dos interesses práticos e das informações que caracterizam as demais partes do jornal.
A metodologia proposta por Bernard Schneuwly
Bernard Schneuwly é professor de didática do ensino de língua na Universidade de Genebra, na Suíça, e vem desenvolvendo juntamente com outros professores, entre eles Joaquim Dolz, da mesma universidade, uma série de estudos sobre ensino e aprendizagem de língua.
Em seu artigo, escrito em 1994, Schneuwly fala dos aspectos psicológicos da aprendizagem (ou seja, da forma como pessoas aprendem) e de seus aspectos ontogenéticos (isto é, o desenvolvimento da capacidade de um indivíduo de adquirir conhecimentos desde a concepção até a idade adulta). Ou, dizendo de outra forma: o que aprendemos nas trocas com outros indivíduos, nas relações sociais, pode interferir em nosso desenvolvimento? Ou o desenvolvimento das pessoas é um fato biológico, independente das relações sociais? Se é um fato biológico, algumas pessoas são mais dotadas do que outras, já nascem com uma capacidade inicial que outras não possuem? Se são, podemos concluir que algumas pessoas nascem com "dom" para certas aprendizagens e outras não?
A reflexão sobre aprendizagem em geral que a questão do desenvolvimento que decorre da aprendizagem x desenvolvimento que ocorre naturalmente se aplica á capacidade de aprender dos indivíduos em qualquer disciplina. Em relação à aprendizagem da escrita, as questões são:
O que se aprende socialmente interfere no desenvolvimento cognitivo?
Aprender gêneros textuais - que é o modo como usamos a língua, nas situações de comunicação no dia-a-dia - amplia nossas capacidades de linguagem?
A reflexão sobre aprendizagem em geral que a questão do desenvolvimento que decorre da aprendizagem x desenvolvimento que ocorre naturalmente se aplica à capacidade de aprender dos indivíduos em qualquer disciplina.
Em relação à aprendizagem da escrita, as questões são:
- O que se aprende socialmente interfere no desenvolvimento cognitivo?
- Aprender gêneros textuais - que é o modo como usamos a língua, nas situações de comunicação no dia-a-dia - amplia nossas capacidades de linguagem?
Construímos este texto que traz uma discussão teórica sobre “gêneros” e põe em destaque um princípio básico da teoria: a compreensão das práticas de oralidade, escrita e leitura como atividades enunciativo-discursivas presentes em várias instituições e em várias esferas sociais, isto é, em vários domínios discursivos, mediadas por enunciados – os gêneros discursivos e textuais orais e escritos. Ressaltaremos nesta aula o estudo do gênero conto.
A compreensão e o domínio teóricos desses conceitos são fundamentais. Assim, embora os conceitos de gêneros sejam bastante diversificados e os gêneros sejam de grande e imensa heterogeneidade, vamos tentar defini-los e caracterizá-los aqui de uma maneira simples e objetiva, sem banalizá-los. Iremos tratar do gênero sob o enfoque discursivo textual de Bernard Schneuwly.
Ao discorrer sobre essas questões, o autor também procura demonstrar a diferença que vê entre gêneros e tipos de discurso. É um artigo muito importante para quem deseja esclarecer por que é necessário associar as tipologias usadas tradicionalmente na escola, como narração, descrição, dissertação (ou argumentação) ao ensino dos gêneros textuais, se deseja desenvolver as capacidades de leitura e escrita.
Veja abaixo as tabelas:
Quadro 1
CAPACIDADES DE LINGUAGEM
GÊNEROS DISCURSIVOS/TEXTUAIS
ARGUMENTAR
Carta de reclamação
Carta de solicitação
Debate regrado
Discurso de acusação (advocacia)
Discurso de defesa (advocacia)
Editorial
Dissertação
Tese
Textos de opinião
Resenha
Texto expositivo etc.
EXPOR
Artigo enciclopédico
Comunicação oral
Conferência
Exposição oral
Palestra
Resumo de texto expositivo ou explicativo
Relatório científico etc.
RELATAR
Anedota
Caso
Curriculum Vitae
Diário íntimo
Notícia
Relato de experiência
Relato policial
Relato histórico
NARRAR
Ficção científica
Novela
Romance
Epopeia
Biografia
Autobiografia
Lenda
Fábula
Contos de fada
Contos maravilhosos
DESCREVER/PRESCREVER AÇÕES
ou INSTRUIR
Regras de jogo
Receita
Regulamento
Regimento
Manual de instrução
Mandamento
Quadro 2
DISCURSOS (FORMAÇÕES DISCURSIVAS/ DOMÍNIO DISCURSIVO)
GÊNEROS DO DISCURSO/GÊNEROS TEXTUAIS
RELIGIOSO
Prece/oração
Ladainha
Reza
Sermão
Hagiografia
Parábola
Homilia, etc.
JORNALÍSTICO
Notícia
Reportagem
Editorial
Crônica
Tirinha
Breves/curtas
Artigo jornalístico
Carta de leitor
Entrevista
Debate
Manchete etc.
ACADÊMICO
Dissertação
Tese
Ensaio
Resumo
Resenha
Artigo científico
Paper
Sumário
Hand-out
Abstrato
Palestra
Conferência etc.
LITERÁRIO
Conto
Romance
Novela
Poema
Tragédia
Comédia
Folhetim
Dedicatória
Crônica
Diário
Fábula
Epopeia
Lenda
Biografia
Autobiografia etc.
ELETRÔNICO/DIGITAL
Chat/bate/papo virtual
Aula chat
E-mail/endereço eletrônico
Blog
Fotoblog
Banner
Barra etc.
PUBLICITÁRIO
Anúncio
Cartaz
Jingle
Outdoor/Busdoor/ Bikedoor/Taxidoor
Panfleto
Spot
COTIDIANO
Conversação e seus tipos
Bilhete
Diário
Anedota
Piada
Anotação
Recado
Convite etc.
ESCOLAR Aula
Prova (escrita/oral)
Ditado
Protocolo
Resumo etc.
Para o autor, essas capacidades todas são mobilizadas nos gêneros textuais que circulam socialmente que, por isso, são ótimos instrumentos para ensinar e aprender língua. Quanto mais gêneros são apropriados, mais capacidades de usar a língua.
Para esclarecer como os gêneros são instrumentos privilegiados para a aprendizagem, Schneuwly considera que toda a aprendizagem se dá não individualmente, mas nas interações sociais. No caso, o autor se refere principalmente à aprendizagem de língua (e dos gêneros, evidentemente). O autor considera que língua só existe na interação, na comunicação entre pessoas. Quando dizemos um simples bom dia, por exemplo, estamos usando palavras que são um recurso para cumprimentarmos alguém, recurso esse que foi construído ao longo da história da humanidade, nas relações sociais. Então, os gêneros de discurso são objetos que usamos para nos comunicar, instrumentos de comunicação socialmente elaborados ou, dizendo de outra maneira, instrumentos da comunicação entre as pessoas. Mas o instrumento só é útil como mediador se o sujeito se apropriar dele:
“O instrumento, para se tornar mediador, para se tornar transformador da atividade, precisa ser apropriado pelo sujeito; ele não é eficaz senão à medida que se constroem, por parte do sujeito, os esquemas de sua utilização”.
Quando nos comunicamos, mobilizamos três elementos:
1. Escolhemos um gênero em função dos elementos que compõem as situações de comunicação: o que eu quero dizer, para quem vou dizer, como vou dizer, onde vou dizer (na fala direta da comunicação oral, em meio familiar ou outra situação do dia-a-dia, ou em meios de comunicação que usam escrita ou fala fundamentada na escrita, como rádio e TV, por exemplo).
2. A partir dessa base (o que, para quem, como, onde), a pessoa escolhe o gênero que vai usar. Por exemplo, se vai falar com a família, usa, em geral, gêneros familiares; se está numa situação profissional, usa gêneros próprios de sua área de atuação. Cada área profissional tem seus gêneros próprios, ou seja, seu modo particular de dizer coisas. É fácil verificar ao pensarmos, por exemplo, nas áreas médica, jurídica ou de informática: cada uma tem sua linguagem própria.
3. Os gêneros, então, têm uma base fixa que depende da situação de comunicação em que são usados e que nos permitem reconhecê-los e escolhê-los: ao encontrar alguém, sabemos que é preciso fazer os cumprimentos de praxe; ao dar uma aula, sabemos que temos que dar informações, explicações e realizar atividades de aprendizagem e avaliação. No entanto, a cada vez que cumprimentamos alguém ou damos uma aula, há aspectos novos no gênero usado para a comunicação. Mesmo que eu dê aula sobre um mesmo conteúdo, por exemplo, quando mudo de sala, a aula nunca fica igual.
Schneuwly prossegue explicando a diferença entre gêneros primários, aqueles que são apreendidos espontaneamente, e gêneros secundários, aqueles mais complexos elaborados, que precisam de sistematização para ser apreendidos. Explica como os gêneros secundários são importantes para o desenvolvimento das capacidades de linguagem dos indivíduos. Ele também afirma que sem o domínio dos gêneros primários – aqueles adquiridos espontaneamente no convívio social, como a conversa familiar – não é possível apropriar-se dos gêneros secundários.
“O novo sistema não anula o precedente, nem o substitui. Isto significaria que todo o trabalho já realizado não teria valido de nada e que seria necessário, por assim dizer, recomeçar a cada vez. (...) De fato, mesmo sendo profundamente diferente, o novo sistema apoia-se completamente sobre o antigo em sua elaboração, mas, assim fazendo, transforma-o profundamente”.
Ao afirmar isso, o autor considera que as funções psicológicas inferiores da inteligência humana são a base da constituição das capacidades superiores. Quando o indivíduo, nas interações sociais, desenvolve novas capacidades, as primeiras não deixam de existir, mas são absorvidas pelas mais elevadas. O novo nível supera o antigo, incorporando o antigo.
Para ele, é próprio da espécie humana desenvolver-se cada vez mais à medida que cria novos instrumentos. A partir de instrumentos criados, a humanidade pode criar instrumentos cada vez mais complexos. Como os gêneros textuais são considerados instrumentos (de comunicação) estão nesse caso. É preciso que a criança se aproprie socialmente dos gêneros primários e, em seguida, dos gêneros secundários. É nessa apropriação que suas capacidades de linguagem se desenvolvem plenamente.
Gêneros Textuais: composição, conteúdo e estilo
Os Gêneros possuem uma forma de composição, ou seja, um plano composicional, por exemplo, um cartão postal possui os seguintes elementos: destinatário, informação contida em um campo à parte, saudação inicial, saudação final e assinatura.
Os Gêneros distinguem-se pelo conteúdo temático, que diz respeito ao tipo de produção em destaque, e pelo estilo, que está vinculado ao tema e ao conteúdo da mensagem transmitida pelo texto que a veicula.
O estilo, para Bakhtin, está indissociavelmente vinculado a determinadas unidades temáticas e, o que é mais importante, a determinadas unidades composicionais: tipos de estruturação e conclusão de um todo, tipo de relação entre locutor e os outros parceiros, da comunicação verbal (relação com o ouvinte, ou com o leitor, ou com o interlocutor, com o discurso do outro etc) . Por exemplo, um contrato: em termos de conteúdo, é esperada a descrição de cláusulas referentes a deveres e direitos das partes envolvidas (e isso todo contrato tem). É o conteúdo temático associado à composição e ao estilo (formal) que farão do contrato um contrato e não uma declaração, um requerimento ou um relatório. Outro exemplo: um cartão de dia dos namorados, uma produção breve que deve conter uma declaração de amor, em estilo íntimo, informal, com identificação de quem remete e a quem se destina.
Gêneros de linguagem
O problema é saber como se articulam as práticas de linguagem, nas suas diferentes formas, com a atividade do aprendiz. Partimos da hipótese de que é através dos gêneros que as práticas de linguagem encarnam-se nas atividades dos aprendizes. Por seu caráter intermediário e integrador, as representações de caráter genérico das produções orais e escritas constituem uma referência fundamental para sua construção. Os gêneros constituem um ponto de comparação que situa as práticas de linguagem.
Eles abrem uma porta de entrada para estas últimas que evita uma imagem delas dissociada no momento da apropriação.
Os gêneros podem ser considerados, seguindo Bakhtin (1984), instrumentos que fundam a possibilidade de comunicação. Trata-se de formas relativamente estáveis tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades culturais intermediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das práticas de linguagem. Os locutores sempre reconhecem um evento comunicativo, uma prática de linguagem, como instância de um gênero. Este funciona, então, como um modelo comum, como uma representação integrante que determina um horizonte de expectativa (Jauss, 1970) para os membros de uma comunidade confrontados às mesmas práticas de linguagem (Canvat, 1996). A prova da existência deste modelo nas diferentes práticas de linguagem é, precisamente, o fato de que o gênero é imediatamente reconhecido, como uma evidência, pela maneira como se impõe, para aquele que se sente à vontade na prática em questão, como uma forma evidente que seu enunciado deve tomar — salvo, bem entendido, se ele quiser, calculando conscientemente os efeitos possíveis, suprimir as marcas do gênero, o que será encarado como desvio, tanto por ele próprio quanto pelos outros atores da prática visada.
Para definir um gênero como suporte de uma atividade de linguagem três dimensões parecem essenciais:
1. Os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis através dele;
2. Os elementos das estruturas comunicativas e semióticas partilhadas pelos textos reconhecidos como pertencentes ao gênero;
3. As configurações específicas de unidades de linguagem, traços, principalmente, da posição enunciativa do enunciador e dos conjuntos particulares de sequências textuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura. O gênero, assim definido, atravessa a heterogeneidade das práticas de linguagem e faz emergir toda uma série de regularidades no uso. São as dimensões partilhadas pelos textos pertencentes ao gênero que lhe conferem uma estabilidade de facto, o que não exclui evoluções, por vezes, importantes.
A aprendizagem da linguagem se situa, precisamente, no espaço situado entre as práticas e as atividades de linguagem. Nesse lugar, produzem-se as transformações sucessivas da atividade do aprendiz, que conduzem à construção das práticas de linguagem. Os gêneros textuais, por seu caráter genérico, são um termo de referência intermediário para a aprendizagem. Do ponto de vista do uso e da aprendizagem, o gênero pode, assim, ser considerado um mega instrumento que fornece um suporte para a atividade nas situações de comunicação e uma referência para os aprendizes. Mas qual é o lugar efetivo dos gêneros na escola?
Os gêneros na escola
Na missão do professor de ensinar aos alunos a escrever, a ler e a falar, a escola, forçosamente, sempre trabalhou com os gêneros, pois toda forma de comunicação, portanto também aquela centrada na aprendizagem, cristaliza-se em formas de linguagem específicas. A particularidade da situação escolar reside no seguinte fato que torna a realidade bastante complexa: há um desdobramento que se opera em, que o gênero não é mais instrumento de comunicação somente, mas, ao mesmo tempo, objeto de ensino/aprendizagem. O aluno encontra-se, necessariamente, num espaço do como se, em que o gênero funda uma prática de linguagem que é, necessariamente, em parte, fictícia, uma vez que ela é instaurada com fins de aprendizagem. Podem-se distinguir, ao menos, três maneiras de abordar o ensino da escrita e da palavra, todas tendo em comum o fato de colocarem de forma central o problema do gênero como objeto e as relações complexas que o ligam às práticas de referência. Nós os descrevemos como formas puras, “tipos ideais”. Na realidade, elas não aparecem jamais como tal, mas apresentam-se sempre em formas mistas com certas tendências predominantes.
Tipo textual
Como já estudamos nas aulas anteriores, Schneuwly e Dolz publicaram um quadro onde as tipologias são cruzadas com os gêneros. Desse quadro é possível deduzir que é tão importante ensinar as tipologias quanto os gêneros. As tipologias são capacidades de linguagem usadas em diferentes gêneros. Para os dois autores, há cinco tipologias que é preciso considerar no ensino de língua. Cada uma dessas tipologias é mobilizada pelas pessoas que se comunicam em diferentes gêneros, mas cada gênero exige um maior ou menor domínio de cada uma delas.
Narrar: capacidade de imaginar histórias de ficção e contá-las. Esta capacidade é usada principalmente na criação de contos, fábulas, romance, etc.
Relatar: capacidade de descrever acontecimentos vividos pelo autor ou por outro. Esta capacidade é usada predominantemente na escrita de notícias, relatos de viagem, relatos de experiência vivida, diários íntimos, etc.
Argumentar: capacidade tomar posição diante de um acontecimento e sustentar sua posição, refutar a posição de outros, negociar com oponentes. Esta capacidade é usada principalmente em debates orais, artigos de opinião, cartas de leitor, etc.
Expor: capacidade de registrar e demonstrar conhecimentos, saberes, obtidos por meio de estudos e pesquisas. Esta capacidade é usada, predominantemente, em conferências, artigos científicos, verbetes de enciclopédia, seminários, etc.
Descrever ações: capacidade de dar instruções e fazer prescrições. Esta capacidade é usada predominantemente em receitas culinárias, regulamentos, regras de jogo, receitas médicas etc.
É importante considerar que usamos todas essas capacidades em gêneros diversos. Por exemplo, num conto, usamos predominantemente a capacidade de narrar, mas podemos colocar personagens discutindo um assunto, e então aparecerá a capacidade de argumentar.
Sequências Textuais
Os autores da metodologia que estão sendo estudados (Schneuwly e outros) defendem que todo texto é formado de sequências, esquemas linguísticos básicos que entram na constituição de diversos gêneros e variam menos em função das circunstâncias sociais (comunicação). As sequências textuais disponíveis são; a descritiva, a narrativa, a injuntiva, a explicativa, a argumentativa e a dialogal.
1. Sequências NARRATIVAS: apresentam uma sucessão temporal/causal de eventos (começo/maio/fim, antes/depois) entre as quais ocorre algum tipo de modificação de um estado de coisas. Há predominância de verbos de ação, bem como de adverbiais temporais, causais e locativos, em discursos diretos, indiretos e indiretos livres. Predominam nos relatos, em notícias, romances, contos, etc.;
2. Sequências DESCRITIVAS: caracterizam-se pela apresentação de propriedades, qualidades, elementos componentes de uma entidade (referente), sua situação no espaço etc. Predominam os verbos de estado, no tempo presente nos comentários e no pretérito imperfeito no interior de um relato;
3. Sequências EXPOSITIVAS: tem-se a análise ou síntese de representações conceituais numa ordenação lógica, dadas pelos conectores predominantemente do tipo lógico (conclusões fluem naturalmente, o leitor é encaminhado);
4. Sequências INJUNTIVAS: apresentam prescrições de comportamento ou ações sequencialmente ordenados, tendo como principais marcas os verbos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente e articuladores adequados ao encadeamento sequencial das ações prescritas;
5. Sequências ARGUMENTATIVAS: são aquelas que apresentam uma ordenação ideológica de argumentos e/ou contra-argumentos. Nelas predominam os modalizadores, os operadores argumentativos, verbos introdutores de opinião etc.
Cada gênero vai eleger uma ou mais sequências para sua constituição. Num manual de instruções, por exemplo, encontrar-se-ão sequências injuntivas e descritivas.
Outras Definições
CONTO
É uma narrativa mais curta, que tem como característica central condensar conflito, tempo, espaço e reduzir o número de personagens. O conto é um tipo de narrativa tradicional, isto é, já adotada por muitos autores nos séculos VXI e XVII, como Cervantes e Volteire, mas hoje é muito apreciado por autores e leitores, ainda que tenha adquirido características deferentes, Poe exemplo, deixar de lado a intenção moralizante e adotar o fantástico ou o psicológico para elaborar o enredo.
CRÔNICA
Por se tratar de um texto hídrido, nem sempre apresenta uma narrativa completa. Uma crônica pode contar, comentar, descrever, analisar. De qualquer forma, a crônica se caracteriza por ser um texto curto, leve, que geralmente aborda temas do cotidiano e cujo veículo privilegiado, por conta de sua atualidade, é a imprensa.
Texto
O Casamento e a Cegonha
Os pais da noiva tinham resolvido que o casamento da filha se faria ali mesmo, na chácara, à boa moda antiga, com mesada de doces, churrasco, muita empada, leitoa, frango assado, boas comidas e abundantes bebidas.
Armou-se o altar na sala da frente. Cobriu-se a mesa do civil com um lindo atoalhado de plástico. Vieram os convidados. Veio o vigário, veio o juiz e veio o escrivão. Testemunhas e a
roda dos parentes. Fizeram o casamento. A moça sempre fora alta, grandalhona, fornida de carnes e de bons quartos. Naquele vestido branco, rodado, de babados subindo e descendo, de véu e grinalda, inda mais reforçada parecia.
Como a festança era mesmo de arromba, fogos pipocando, música chegando e muita gente entrando e saindo, ninguém mais reparou nos noivos que, depois de posarem para o retrato de praxe, na cabeceira da mesa e de cortarem juntos o bolo artístico, se misturaram com os convidados e cada qual se achou à vontade e sem constrangimento.
O juiz e o vigário deixaram-se ficar numa roda de amigos, conversando com os advogados, escrivães, gente do foro. O baile tinha começado. A moçada saracoteava alegre. Os que não eram de dança, rodeavam a mesa posta, com pratos, copos e garrafas. Espetos de churrasco e bandas de leitão se cruzavam por todos os lados. Boas comidas, muita bebida e os donos da casa pondo o pessoal à vontade, incansáveis, não cabendo em si de contentes com o casamento daquela primeira filha. Nada alegra tanto o coração da criatura como mesa posta, carne assada, bebidas de graça e falta de cerimônia. Quem contestar esta verdade simples, não merece dois vinténs de crédito. Bem por isso mesmo diz o caboclo: a alegria vem das tripas - barriga cheia, coração alegre. O que é pura verdade.
A orquestra assoprava valsas e boleros com furor. Os pares girando. Os namorados namorando. Os que não dançavam, se encostavam pelas mesas e, quem já estava farto, fazia roda, bebia café, fumava cigarro e contava piadas. Quando a festança ia mais animada, lá pelas tantas, ouviu-se um corre-corre pelos quartos e corredores. Logo mais aparecia na sala o dono da casa, ansioso e afobado, se desculpando e pedindo ao juiz e ao vigário fazerem o favor de acabar com a festa porque a noiva estava com dor de parto e a assistente já tinha chegado... "Isto é que se chama de aproveitar o tempo", comentou um convidado, "numa só festa, casa a filha e chega a cegonha...”
Cora Coralina
Texto
Horóscopo
Telefonaram do escritório, bem. Seu chefe mandou perguntar por que você não foi trabalhar.
- Podia ter dado.
- E você deu o motivo?
- Não.
- Ora, Alfredinho, isso é motivo que se dê?
- Por que não? Se há motivo, está justificado. Sem o motivo é que não cola.
- Então eu ia dizer ao seu chefe que você não trabalha hoje porque o seu horóscopo aconselha: "Fique em casa descansando"?
- E daí, amor? Se meu signo é Touro, e se Touro acha conveniente que eu não faça nada, como é que eu vou desobedecer a ele?
- É, mas com certeza seu chefe não é Touro, e não vai achar graça nisso.
- Ele é Áries, está ouvindo? E o dia não está para relações entre Áries e Touro. Pega aí o jornal. Faz favor de ler com esses belos olhos cor de pervinca: "Áries - evite rigorosamente discussões com subordinados".
- Mas se ele evitar, nã o tem perigo para você.
- Ele pode evitar, sim, deve evitar. E para colaborar com ele, eu fico em casa.
- Mas se você não comparece, ele pode vir ao telefone e pegar numa discussão danada com você, dessas de sair fogo.
- Não atendo telefone durante o dia. "Não posso atender". Não vê que estou descansando, que o horóscopo me mandou descansar? É favor não fazer rebuliço nesta casa. Amor e paz, para o descanso do guerreiro.
- Pra mim você está é com preguiça, e das bravas.
- Posso estar com preguiça, e daí? Preguiça é relaxante, restaura as energias, predispõe para o trabalho no dia seguinte. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Se eu não faço nada hoje, não é porque estou com preguiça. É em atenção a um mandamento superior, a mensagem que vem dos astros, você não percebe?
- Percebo, sim, mas não concordo.
- Pode-se saber por que a excelentíssima não concorda com aquilo que percebe e que está devidamente explicado?
- Pode.
- Então explica, vamos.
- Gozado, Alfredinho, até parece que para você só existem dois signos no zodíaco: Touro e Áries, você e o patrão.
- Espera lá, você queria que eu não prestasse atenção em Touro? Áries eu li hoje por acaso, porque está ao lado de Touro, em coluna paralela.
- Coincidência: você saber que seu chefe é Áries, e...
- E, sim...
- E por que você guardou na cabeça que ele é Áries?
- Ora por quê! Ele fez anos no mês passado, amorzinho. Até contei a você que oferecemos a ele uma batedeira. Soubemos que a mulher dele precisava de batedeira, fizemos uma vaquinha, pronto. Mas por que você diz que para mim só existem dois signos?
- Pelo menos Sagitário você ignora.
- Como que eu ia ignorar Sagitário, se é o signo de você, minha orquídea de novembro 25?
- É, mas esqueceu de ler que o dia é propício para reuniões sociais de Sagitário, e saiba que esta sua orquídea de novembro 25 vai reunir hoje as amigas aqui em casa. Trate de se mandar, querido.
- Sem essa! Touro me manda descansar em casa, e você me enche a casa com mulheres?
- É Sagitário que recomenda, mon ange.
- Sagitário não ia fazer isso comigo! Eu já tinha harmonizado Touro com Áries!
- Pode continuar harmonizando, se for descansar em casa do Tostes, que é Virgem, eu sei, e é nosso padrinho de casamento. O horóscopo do Tostes recomenda prestar serviço a um amigo. Assim, Touro, Virgem, Áries e Sagitário ficam inteiramente harmonizados, cada um na sua, um por todos, todos por um. Ande, vá se vestir rapidinho, rapidinho, e rua, seu vagabundo!
Carlos Drummond de Andrade
Exercícios:
1 - Qual o gênero do texto "O casamento e a Cegonha" de Cora Coralina?
2 - Qual o gênero do texto "Horóscopo" de Carlos Drummond de Andrade?
3 - Cite 03 características que compõem um conto?
4 - Cite 03 características que compõem uma crônica?
Texto
“Quando a alma vibra, atormentada...”
Temi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal “O Itapemerim”, órgão oficial do “Grêmio Domingos Martins”, dos alunos do Colégio Pedro Plácido, de Cachoeira de Itapemerim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: “A lágrima”. Não tive dúvidas; peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos.
“Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnio, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: a lágrima.”
É claro que eu não parava ale. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de “traidora inconsciente dos segredos d’alma”, descubro que ela “amolece os corações mais duros” e também (o que é mais estranho) “endurece os corações mais moles”. E acabo com certo exagero dizendo que ela foi “sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão”.
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque.
Rubem Braga
Texto
Perfeito seu plano de aula, parabéns!
ResponderExcluirMuito bom!!!
ResponderExcluirMuito util!!!
obrigado
Muito bom!!!!
ResponderExcluirMuito util!!!
obrigado!!!