Literatura na escola - 6º ano
Contos
de Carlos Drummond de Andrade
Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver
a competência leitora;
desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso
crítico;
inferir as características do gênero conto e o contexto histórico e literário
do livro;
estabelecer relações entre o lido \ vivido ou conhecido (conhecimento de mundo);
conhecer alguns elementos básicos da narrativa; perceber alguns efeitos
estéticos da obra literária, principalmente aqueles que geram humor.
Conteúdos: Elementos da narrativa: narrador,
enredo, personagens, tempo, espaço e tipos de discurso; verossimilhança na narrativa
de ficção; quebra de expectativa com efeito de humor.
Tempo estimado: Cinco aulas.
Desenvolvimento
1ª etapa: Antecipação/Sensibilização
Pergunte aos alunos
se eles já ouviram falar do escritor Carlos Drummond de Andrade. Peça que
pesquisem, em casa, a biografia do autor.
Após a leitura da
biografia, converse com os alunos sobre o fascínio que o autor tinha pelas
palavras, desde sua infância.
2ª etapa: Leitura compartilhada do 1º
conto
Apresente à turma o
livro Rick e a Girafa, antologia com 27 contos de Drummond. Peça que os
alunos leiam um conto por dia em casa. São histórias pequenas e fáceis de ler.
Em seguida,
proponha a leitura em sala de aula da narrativa "Pescadores". Quando
os alunos terminarem, faça algumas perguntas e peça que registrem as respostas
no caderno:
- Por qual motivo essa
narrativa faz parte do capítulo "Confusões e surpresas”? Discuta com a
sala se há confusões e surpresas no conto.
- Por qual motivo a narrativa se
torna engraçada?
Analise com a sala como as quebras de
expectativa geram humor no conto.
3ª etapa: Análise do conto - tipos de
discurso
Mostre à turma, por
meio da narrativa “Pescadores”, o que é discurso direto. Analise como a
estratégia desse tipo de discurso ajuda a dar vivacidade à cena, aproximando o
leitor dos fatos narrados. Aproveite para explicar aos alunos que uso de
travessões marca a fala dos personagens. Com isso, ainda que não apareçam
verbos de dizer (elocução), o leitor consegue distinguir quem está falando.
4ª etapa: Análise do conto - foco
narrativo
Pergunte aos alunos
quem está contando a história. Certamente, alguns responderão que é o escritor
Carlos Drummond de Andrade. Explique a eles que o autor é decisivo só no
momento da escritura. Depois de a obra estar pronta, ela fala por si só. O
escritor apenas imagina a história, as personagens, o cenário e cria alguém responsável
pelo ato de narrar.
Explique à turma
que o narrador é, assim como tudo na narrativa, um ser de papel, inventado,
ficcional. Mostre aos alunos que as narrativas podem ser contadas tanto por um
alguém que participa da história (narrador-personagem), quanto por alguém de
fora (narrador em 3ª pessoa). Lance a seguinte questão: Quem conta a história
“Pescadores”? Peça que a classe retire do texto fragmentos que comprovem a
resposta.
5ª etapa: Análise do conto –
verossimilhança
Lance as seguintes
questões à moçada:
- Os fatos narrados
aconteceram na vida real?
- Você diria que as
personagens dão a impressão de existirem verdadeiramente?
- A casa de um dos
pescadores existe de verdade? E a família?
Ouça as repostas
dos alunos e comente sobre a narrativa de ficção, mostrando que ela é
verossímil, ou seja, assemelha-se à realidade, mas é inventada.
Terminada a análise
do primeiro conto, solicite que os alunos leiam outros contos. Podem ser
elaboradas atividades semelhantes às descritas acima.
Avaliação: Peça que os alunos leiam três contos
determinados por você. Em uma aula, individualmente e com consulta ao livro,
entregue questões que contemplem os elementos trabalhados anteriormente – tipos
de discurso, narrador, efeito humorístico e verossimilhança – e peça que os
alunos respondam por escrito
A
narrativa de Graciliano Ramos
Introdução: Esta é a segunda de uma série de 16
sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino
Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.
Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver
a competência leitora; desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a
criatividade e o senso crítico; estabelecer relações entre o lido / vivido ou
conhecido (conhecimento de mundo); conhecer / exercitar alguns elementos
básicos da narrativa; discutir relações de diferença / discriminação.
Conteúdos: Elementos da narrativa: narrador,
enredo, personagens, tempo, espaço e tipos de discurso; conceitos de real e
imaginário; conceitos de Diferença, Tolerância, Preconceito e Discriminação.
Tempo estimado: Cinco aulas
Desenvolvimento
1ª etapa: Antecipação/ Sensibilização
Pergunte aos alunos
se eles já ouviram falar de Graciliano Ramos (1892-1953) e se eles conhecem
alguma obra que ele publicou. Conte à turma que, quando o escritor alagoano
decidiu produzir livros para crianças, já era um nome conhecido na literatura
brasileira e havia publicado duas importantes obras adultas: São Bernardo, de
1934 e Angústia, de 1936.
Explique à classe
que, em 1937, Graciliano Ramos resolveu concorrer a um prêmio literário
proposto pelo Ministério da Educação e inscreveu uma história não muito longa e
bastante original, chamada "A terra dos meninos pelados", que será
lida pela turma nas próximas aulas. A narrativa foi a vencedora, mas não contou
com muitos apreciadores na época.
Em seguida, peça
que os alunos leiam os dois primeiros capítulos do livro e discuta com eles o
conflito vivido pela personagem principal. Raimundo era diferente dos outros
meninos? Como? Por que os outros meninos mangavam dele? Pergunte se a classe
concorda com a atitude dos outros meninos e como acham que Raimundo se sentia.
Discuta a ideia de preconceito e respeito às diferenças.
2ª etapa: análise dos dois primeiros
capítulos - tipos de discurso
Peça que os alunos
observem que, nos capítulos 1 e 2, poucas vezes a personagem principal fala.
Questione a classe sobre o motivo dessa ausência de voz. Em seguida, pergunte
se nesses capítulos predomina o discurso direto ou indireto (lembre a turma dos
conceitos aprendidos na primeira sequência didática desta série, sobre o livro
"Rick e a girafa", de Carlos Drummond de Andrade). Peça que transcrevam
as ocorrências do discurso predominante.
Observe que
Raimundo fala pela primeira vez apenas no capítulo 2: "- Era melhor que me
deixassem quieto, disse Raimundo baixinho." Pergunte à moçada por que ele
demora a falar? Por que fala "baixinho"? O que essa fala revela?
Para a aula
seguinte, peça que os alunos leiam o 3º capítulo do livro.
3ª etapa: Análise do 3º capítulo -
tipos de discurso e foco narrativo
Retome os dois
primeiros capítulos de "A terra dos meninos pelados", e comente com a
turma que, neles, predomina a voz do narrador:
- "Havia um
menino diferente dos outros meninos".
- "Um dia em
que ele preparava com areia molhada a serra de Taquaritu e o rio das Sete
Cabeças, ouviu gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores..."
Comentar que, a
partir do capítulo 3, começa a aparecer mais intensamente a voz de Raimundo e
peça que os alunos arrisquem uma interpretação. Por que isso ocorre?
Uma possível
explicação é que, a partir do momento em que Raimundo transfere-se para o mundo
imaginário, diminui a aparição do narrador em 3ª. pessoa. Isso não quer dizer
que, de uma hora para outra, a história muda de foco narrativo (retomar o
conceito de foco narrativo discutido na leitura de "Rick e a
girafa"). Pelo contrário, o narrador continua seguindo a trajetória de
Raimundo, só não interfere em momento algum com descrições, comentários,
explicações, deixa Raimundo dialogar, conviver com seus novos amigos sem a
presença de um adulto ou voz autoritária. Por esse motivo o discurso direto
permeia toda a história.
4ª etapa: O real e o imaginário
Peça que os alunos
respondam por escrito:
1- No capítulo 3, Raimundo resolve
momentaneamente o seu problema. Para onde Raimundo vai?
2- Essa viagem é mágica? Justifique.
3- No mundo imaginário, não se busca a lógica dos fatos, nem a realidade
concreta, lá tudo é possível e todas as coisas podem acontecer. Como é a terra
dos meninos pelados? Descreva-a.
4- No mundo imaginário, por mais iguais que as crianças sejam, ainda
assim, mantêm diferenças que as distinguem. Que diferenças são essas? Retire do
texto fragmentos que comprovem sua resposta.
5- Durante toda a narrativa, Raimundo tem consciência da realidade.
Considera a terra imaginária excelente para se viver, mas sabe que deve voltar
para a realidade. Retire do texto fragmentos que indicam lembranças que ele tem
do mundo real.
Peça que os alunos leiam em casa os
demais capítulos do livro.
5ª etapa: diferença e discriminação
Discuta oralmente
com a classe os seguintes pontos:
1- Logo que
Raimundo vê as crianças, algo semelhante ao mundo real lhe acontece. O que
acontece? Como Raimundo reage?
2- Sardento propõe a Raimundo um
plano. Que plano é esse?
3- O que Raimundo acha desse plano?
Qual o conselho ele dá ao amigo?
4- A atitude de Raimundo é contrária
à que toma no mundo real? Por quê?
5- O nome "Raimundo"
significa "protetor" ou "sábio". Indica uma pessoa que
tende a se isolar, pois é muito rigorosa consigo mesma e supervaloriza as
virtudes e opiniões dos outros. Porém, quando essa pessoa se conscientiza de
sua própria importância, torna-se capaz de dar apoio e conselhos valiosos a
todo mundo. Tendo como base a informação sobre o nome "Raimundo",
você considera coerente com a atitude da personagem principal, no momento em
que ela orienta Sardento?
6- No capítulo 11, os novos amigos de
Raimundo querem lhe dar outro nome: "Mundéu" ou "Pirundo".
Por qual motivo Raimundo não deseja trocar seu nome?
7- "Raimundo diz para Sardento
que o fato de ele ter sardas na pele não muda nada, já que todos o
amavam". Essa atitude revela um amadurecimento de Raimundo?
8- A terra dos meninos pelados,
segundo a estudiosa Regina Zilberman, pode ser julgada como um texto
politicamente correto, ao falar de pessoas perseguidas pelos preconceitos da
sociedade, que sabem dar volta por cima, não por se adaptarem aos valores
predominantes, mas por se aceitarem como são. Vocês concordam com a opinião da
autora? Considera que Raimundo volta para a realidade mais forte para encarar
os preconceitos?
Tempo estimado: Cinco aulas
Material necessário: Livro Os
cavalinhos de Platiplanto. José J. Veiga. Bertrand
Brasil.
Desenvolvimento
Avaliação: Em uma aula, individualmente e com consulta ao livro, entregue questões que contemplem os elementos trabalhados anteriormente (tipos de discurso, narrador, realidade/imaginação e diferença/discriminação) e peça que os alunos respondam por escrito.
Contos de José J. Veiga
Introdução: Esta é a terceira de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.
Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver a competência leitora; desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico;
estabelecer relações entre o lido / vivido ou conhecido (conhecimento de mundo);
conhecer / exercitar alguns elementos básicos da narrativa (foco narrativo, tempo e espaço); discutir o papel da literatura como fonte de repertório para um imaginário mais rico.
Conteúdos: Elementos da narrativa: narrador, tempo e espaço; conceitos de real e imaginário; conceitos de tempo do enunciado e tempo da enunciação.
1ª etapa: antecipação/sensibilização
Pergunte se os
alunos já ouviram falar do escritor José J. Veiga? Conhecem alguma obra que ele
publicou? Ouça as repostas e apresente à turma as informações abaixo.
José Jacinto
Pereira Veiga (1915-1999) nasceu em Corumbá, uma pequena vila a 150 quilômetros
de Goiânia (GO), e dizia dever a escolha de seu nome literário à ajuda de
Guimarães Rosa que, com argumentos numerológicos e estilísticos, sugeriu José
J. Veiga, na altura da publicação do livro de estreia "Os Cavalinhos de Platiplanto",
em 1959.
Faça uma leitura
compartilhada do primeiro conto: "A Ilha dos Gatos Pingados”, seguida de
troca de impressões gerais.
2ª etapa: análise de
“A Ilha dos Gatos Pingados” - tempo do enunciado e tempo da enunciação
Retome o enredo do conto com a classe, assim como as impressões gerais – elas
são importantes para que o professor possa achar o fio condutor da análise
literária. Em seguida, releia com a turma o seguinte trecho:
“Já sei o que vou
fazer. Se Cedil não voltar até o fim do ano, vou-me embora para o sítio de
minha avó. Lá eu vou ter uma bezerra pra tirar cria, um cavalinho para montar e
muitas coisas pra fazer o dia inteiro. É melhor do que ficar aqui feito bobo,
pensando toda a vida na ilha, nos brinquedos que a gente brincava, nas coisas
que Cedil e Tenisão diziam, e até nos sustos que passávamos, como no dia que a
jangada quase afundou com nós três.”(página 1)
Discuta com os
alunos:
- Quem é o narrador
desse fragmento? Ele participa da história? Como você o caracteriza?
- O fragmento
revela que o narrador conta os fatos após algum tempo. Retome o conto, se
precisar, e pergunte quanto tempo se passou desde que os fatos narrados
ocorreram?
Explique os
conceitos de tempo da narração e tempo do narrado (ou tempo da enunciação e
tempo do enunciado). Diga à turma que o narrador/personagem conta a história da
Ilha dos Gatos Pingados aproximadamente um mês depois de ela ter sido vivida. A
experiência dos meninos se revela tão intensa que o narrador parece
profundamente transformado e o intervalo entre o tempo da narração e o tempo do
narrado aparenta ser bem maior.
- Parece que faz só
um mês que o narrador/personagem viveu o que conta? Por quê?
3ª etapa: análise de “A Ilha dos Gatos
Pingados” – o Espaço como ambientação
Releia com a classe
o relato a respeito da ilha.
“Lá ninguém ia, o
mato era fechado na beira da água, mas varando o mato o resto era limpo, dava
muito cará e sangue-de-cristo. Não tinha era canoa, a que costumava ter tinham
tirado, com certeza justamente pra menino não atravessar. O jeito era fazer uma
jangada de toro de bananeira”.
Depois o compare
com um relato posterior:
“Eu gostava bem da
ilha, mas acho que gostava mais era por causa de Cedil. Ele tinha deixado de
falar em afogar ou fugir, decerto porque Zoaldo estava viajando... Mas Cedil
não parecia o mesmo, todo dia inventava um brinquedo novo”.
Discuta com a sala
os seguintes pontos:
- Onde se passa a
história?
- O que acontece
com Cedil?
- Por que os meninos
decidem montar casa na ilha?
- A ilha é apenas
um esconderijo ou representa algo mais para eles?
- A ilha significa
a mesma coisa para Cedil e para os outros meninos?
Para ajudar na
reposta, leia o trecho abaixo:
Os espaços de “A
ilha dos gatos pingados” são de grande importância para a vida dos narradores e
dos personagens, são neles que acontecem os eventos mais brutais da vida
cotidiana. As narrativas têm como narradores e/ou protagonistas, crianças
diante de preocupações e questionamentos sobre a vida e envolvidas em alguma
situação de repressão, ou de morte. Oposto a isso, há um outro lugar: mágico,
exótico, distante, capaz de fazer esquecer todos os desgostos enfrentados pelas
criaturas de papel: tanto o narrador quanto as personagens. É a Ilha dos Gatos
Pingados.
4ª etapa: leitura compartilhada “Os
cavalinhos de Platiplanto”
Reserve um tempo
para a leitura compartilhada de “Os cavalinhos de platiplanto”, seguida de
troca de impressões gerais.
5ª etapa: análise “Os cavalinhos de
Platiplanto”: o real e o imaginário
O conto “Os
cavalinhos de Platiplanto” se inicia com o seguinte fragmento:
“O meu primeiro
contato com essas simpáticas criaturinhas deu-se quando eu era muito criança.”
(p.27)
Percebemos que quem
nos conta os fatos é um narrador em 1ª. pessoa que, via memória, recupera os
fatos vividos por ele ainda muito criança. Aqui, como em “A Ilha dos Gatos
Pingados”, há uma diferença entre o tempo da enunciação e o tempo do enunciado,
só que agora a diferença é entre infância e idade adulta.
Destaque o
fragmento a seguir e discuta com a turma:
“Quando a gente é
menino parece que as coisas nunca saem como a gente quer. Por isso é que eu
acho que a gente nunca devia querer as coisas de frente por mais que quisesse,
e fazer de conta que só queria mais ou menos. Foi de tanto querer o cavalinho,
e querer com força, que eu nunca cheguei a tê-lo.”
O fragmento acima
revela um posicionamento de alguém já amadurecido, ou seja, os fatos vividos
quando criança são interpretados de outra forma por alguém que, distante no
tempo, com uma postura mais reflexiva, resolve rememorá-los. O narrador, diante
da impossibilidade de ganhar o cavalinho do avô, sente o gosto amargo da
frustração. Porém, para atenuar essa decepção, a criança foge para um mundo
imaginário.
Destaque os
fragmentos a seguir:
Eu não entendia por
que uma pessoa como meu avô Rubem podia mudar, mas fiquei com medo de perguntar
mais; mas uma coisa eu entendi: o meu cavalinho, nunca mais. Foi a única vez
que eu chorei por causa dele, não havia consolo que me distraísse.
Não sei se foi
nesse dia mesmo, ou poucos dias depois, eu fui sozinho numa fazenda nova e
muito imponente, de um senhor que tratavam de major. A gente chegava lá indo
por uma ponte, mas não era ponte de atravessar, era de subir.
Discuta com a
moçada:
- Como o menino vai para a fazenda do
major?
- O espaço para o qual o narrador-personagem
é transportado é espaço físico (real) ou imaginário? Que elementos o texto nos
oferece para afirmar isso?
Explique à turma
que o sonho do garoto se inicia com a ida dele a uma fazenda desconhecida. O
espaço se apresenta como um lugar novo, reelaborado, idealizado pelo
inconsciente, totalmente diferente dos locais que o sonhador está acostumado a
frequentar.
A chegada a esse
local é feita por uma ponte que não era de atravessar, mas de subir. O símbolo
é recorrente nas narrativas de José J. Veiga e indica uma passagem para o
distanciamento entre o plano real e o plano imaginário. A presença da ponte
para se chegar ao outro lado também pode ser vista como uma passagem difícil a
ser superada. Ela coloca o homem sobre uma via estreita onde ele encontra a
obrigação de escolher se continua a travessia ou desiste de superar aquele
desafio.
Na narrativa “Os
cavalinhos de Platiplanto”, o imaginário se torna o espaço onde as frustrações
podem ser atenuadas e as vontades realizadas. O desejo que o menino tinha de
receber o cavalinho prometido por seu avô aparece realizado nos vários
cavalinhos coloridos que se exibem na fazenda do Major, mas que não podem sair
de lá.
Pergunte aos alunos
por que os cavalinhos não podem nunca sair da fazenda?
Destaque o trecho
abaixo:
Depois de tudo o
que eu tinha visto achei que seria maldade escolher um deles só para mim. Como
é que ele ia viver separado dos outros? Com quem ia brincar aquelas
brincadeiras tão animadas? Eu disse isso ao major, e ele respondeu que eu não
tinha que escolher, todos eram meus.[...] Mas depois fiquei meio triste, porque
me lembrei do que o major tinha dito que ninguém podia tirá-los daqui.[...]
Eles só existem em Platiplanto.(p. 35)
Conclua com a turma
que “Os cavalinhos de Platiplanto” mostram a importância da imaginação para que
possamos suportar certas durezas do mundo real. Discuta com os alunos o papel
da literatura como fonte de repertório para um imaginário mais rico.
Avaliação: Em uma aula, individualmente e com
consulta, entregue questões dirigidas a outros contos do livro, que contemplem
os elementos trabalhados anteriormente – narrador, tempo do enunciado e tempo
da enunciação e espaço; real e imaginário – e peça que os alunos respondam por
escrito.
Poemas
de Paulo Leminski
Introdução: Esta é a quarta de
uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura
literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.
Objetivos: Estimular o gosto
pela leitura; desenvolver a competência leitora; desenvolver a sensibilidade
estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico; estabelecer relações
entre o lido / vivido ou conhecido (conhecimento de mundo); conhecer a
diferença entre sentido literal e figurado; perceber a particularidade da palavra
poética.
Conteúdos: Sentido literal e sentido figurado
(ou denotativo e conotativo);
Paráfrase e interpretação; eu lírico ou eu poético; forma literária.
Tempo estimado: Três aulas
Desenvolvimento
1ª etapa: Sentido literal x sentido
figurado – paráfrase dos poemas
Coloque no quadro os seguintes poemas
de Paulo Leminski:
1)
você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo
nem fale em amor
que amor é isto
que às vezes penso
que nem existo
nem fale em amor
que amor é isto
2)
amarga mágoa
o pobre pranto tem
por que cargas-d’água
chove tanto
e você não vem?
3)
coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro
amarga mágoa
o pobre pranto tem
por que cargas-d’água
chove tanto
e você não vem?
3)
coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro
Peça que os alunos
respondam por escrito:
1. O que fala cada um dos poemas?
Faça uma “paráfrase” de cada poema, ou seja, explicite seu conteúdo no nível
mais literal possível (saiba mais no Box abaixo).
2. Do que falam os poemas? Arrisque
uma interpretação do sentido figurado, das entrelinhas de cada poema.
Na paráfrase, o
leitor deve se ater ao que as palavras significam literalmente, no seu sentido
usual, como se estivessem fora de contexto. Quando interpretamos um poema,
buscamos seu sentido figurado, aquele que só existe em situações não usuais.
Para isso, temos que ler nas entrelinhas.
Assim, literalmente
no poema 1 um Eu lírico reclama a ausência de um Tu poético que está longe e
diz que isso é amor. No segundo poema, a primeira estrofe fala que o pranto tem
uma mágoa amarga e, na segunda estrofe, o Eu lírico pergunta por que o Tu
poético não vem, já que chove muito. No último poema, o vento balança uma rede
vazia.
Discuta com a
classe como uma leitura literal empobrece e distorce o verdadeiro sentido dos
poemas.
2ª etapa: Interpretação dos poemas
Retome o sentido
literal de cada poema com a classe e peça que eles exponham suas ideias sobre o
sentido figurado. Lembre-se que um bom poema pode comportar mais de uma
interpretação.
O primeiro poema
fala do sentimento de vazio provocado pela ausência da pessoa amada, e que amar
é sentir-se deixar de existir diante da ausência do outro. No poema dois,
realizando uma analogia entre o choro e a chuva, o Eu lírico também reclama a
ausência do ser amado. No último poema, o Eu lírico constata o vazio diante da
ausência de um ser que preenchia uma rede com seu corpo e agora não a preenche
mais.
Discuta com a sala:
- Os três poemas
falam da mesma coisa?
- Os três poemas
falam do mesmo jeito?
- No que os poemas
são diferentes?
3ª etapa: Análise dos poemas: conceito
de Forma Literária
Retome os três
poemas e a discussão anterior.
De fato, os três
poemas de Paulo Leminski se aproximam tematicamente na medida em que tratam de
ausência e saudade. No entanto, é importante observar que são muito diferentes
no que se refere à sua forma: para falar do mesmo “assunto”, cada um usa uma
imagem e cada um faz um jogo diferente com as palavras. Vejamos:
O primeiro poema
figura a saudade do ser amado usando uma rima bastante significativa: existo e
isto. O ser amado vai para longe e ele sente como se não existisse e, muito por
meio da rima, afirma que isso é que é o amor.
O segundo poema
figura o mesmo tipo de saudade fazendo uma analogia entre o pranto e a chuva.
Quando o Eu lírico pergunta “porque cargas d`água chove tanto e você não vem” e
a palavra “vem” rima com a amarga mágoa que o pobre pranto “tem”, percebemos a
analogia entre pranto e chuva. O que o Eu lírico reclama é a ausência do ser
amado mesmo diante de seu intenso sofrimento (traduzido em pranto, figurado em
chuva).
O último poema,
rimando vento e dentro, figura a ausência por meio da imagem de uma rede vazia.
Mostre aos alunos
que, na linguagem poética, a FORMA vale tanto quanto o CONTEÚDO. Mais que isso,
o conteúdo só ganha sentido por meio da forma. Em poesia, e em arte de um modo
geral, FORMA É CONTEÚDO.
Avaliação: Em uma aula, individualmente e com consulta ao
livro e ao caderno, peça que os alunos respondam as mesmas questões com poemas
diferentes.
Artigo tirado da revista Nova Escola
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