A categoria gramatical na construção do texto
Nessa seção, é aprofundado o estudo das relações
entre a categoria gramatical estudada e o texto, isto é, busca-se compreender
em que medida o emprego de tal categoria é responsável pela construção
do sentido do texto. Assim, amplia-se sobremaneira a abordagem tanto da
leitura quanto do ensino de língua, já que se une a interpretação textual
com a análise de valores semânticos e estilísticos da categoria gramatical
enfocada.
Em última instância, esse trabalho objetiva
desenvolver no aluno a capacidade de ler/ver o texto pela perspectiva
da língua. E o texto, nesse caso, em hipótese alguma é apenas um pretexto
para o reconhecimento de categorias gramaticais; ao contrário, passa
a ser visto como um todo significativo, em cuja construção determinada
categoria assume papel vital.
De acordo com os assuntos abordados, o nome dessa
seção varia, com títulos como “As variedades lingüísticas na construção
do texto”, “A intertextualidade e a interdiscursividade na construção
do texto”, “As figuras de sintaxe na construção do texto”, e assim por
diante.
Semântica
e interação
Os conteúdos gramaticais trabalhados no capítulo
são retomados e ampliados, sendo vistos agora pela perspectiva do discurso, isto é, das circunstâncias em que
se deu a produção dos enunciados e dos textos. Além disso, aprofundam-se
os valores semânticos da categoria gramatical em estudo e, normalmente,
também são observados os recursos da estilística responsáveis pela criação de sentido.
Nesse tipo de abordagem, examinam-se situações
hipotéticas e concretas de comunicação, a fim de observar como ocorre
o processamento da linguagem, de acordo com os componentes que fazem
parte da situação comunicacional. Por exemplo, ao se fazer a leitura de
um anúncio publicitário, verifica-se de que modo o texto é organizado
em suas linguagens (verbal e não verbal), qual sua intencionalidade,
que estratégias de persuasão utiliza, qual o veículo de transmissão
do anúncio, quem é o anunciante, qual é o público-alvo, qual é a expectativa
do anunciante, que imagem o consumidor faz do anunciante ou daquela
marca de produto, etc.
Enfim, trata-se de uma seção que — por meio de atividades
que levam à reflexão, à interpretação de fatos semânticos, ao debate, à
pesquisa, à troca de informações, a pequenas produções de texto que
garantam maior clareza e precisão da informação desejada, etc. — objetiva
promover estudos capazes de, por um lado, desenvolver a competência
lingüística do aluno e, por outro, explicitar-lhe os recursos e mecanismos
disponíveis na língua para criar sentido, a fim de que se sirva deles com
maior consciência e domínio.
No ensino médio, essa nova abordagem atende ainda
ao anseio de professores, escolas, vestibulares e propostas curriculares
oficiais, como os PCN e os PCN+, que apontam claramente para uma gramática
reflexiva, voltada para o texto e para as relações sociais de interação
verbal.
Boxes
Assim como os boxes de literatura, os boxes de língua
incluem textos paralelos que objetivam dialogar com o texto-base, acrescentando
informações, destacando aspectos particulares ou chamando a atenção
para curiosidades da língua. Seu caráter é diversificado, podendo ora
conduzir o aluno a uma reflexão, como em “Para que servem as conjunções?”,
ora atraí-lo para uma curiosidade, como em “Gírias de ontem e de hoje”, ora aprofundar
aspectos específicos da teoria gramatical.
Normalmente coloridos e/ou acompanhados de imagens,
os boxes imprimem leveza, dinamismo e atualidade aos assuntos gramaticais
tratados.
Em dia
com o vestibular
Essa seção ocorre ao término de cada unidade e
reúne as questões dos últimos vestibulares de todo o país. Em páginas
coloridas e destacadas do conjunto, as questões propostas podem ser
utilizadas ao longo do estudo dos capítulos ou no final da unidade, servindo
para revisão e complementação dos conteúdos desenvolvidos.
Sugestões de estratégias
Sugestões gerais
1. Resolução de exercícios
propostos individualmente, em duplas ou em pequenos grupos.
Convém variar bastante as estratégias. Tanto os exercícios quanto
as verificações (avaliações) podem ser feitos individualmente ou em pequenos
grupos. A troca de vivências linguísticas amplia o conhecimento do aluno sobre
a língua e lhe abre oportunidades para conviver com o diferente.
2. Gincanas e brincadeiras
São muitas as brincadeiras que podem ser feitas com os conteúdos
gramaticais. De modo geral, elas resultam numa revisão e/ou numa aplicação dos
conteúdos gramaticais vistos. Vamos dar um exemplo: a brincadeira do bombom.
O professor acabou de trabalhar com o último tópico gramatical do
bimestre. Pede então que, na aula seguinte, todos os alunos tragam um bombom
(ou bala, um chiclete, o que achar melhor). No dia, organiza a classe em
grupos, recolhe os bombons num saco e propõe que os grupos façam os exercícios
sobre esses assunto em determinado tempo (por exemplo, 15 ou 20 minutos no
máximo). À medida que terminam, vão apresentando, em folha avulsa, os
resultados ao professor, que os corrige imediatamente. O grupo vencedor (o que
tiver maior número de acertos) leva o saco de bombons. Se houver empate, o
professor poderá apresentar mais um pequeno número de exercícios-surpresa, até
que haja apenas um grupo vitorioso.
3. Pesquisas/registros
Quase todos os conteúdos gramaticais podem ser observados na
língua de uso em diferentes situações cotidianas: no jornal escrito e falado,
na tevê, em revistas, nos quadrinhos, nas conversas de rua ou na escola, etc.
Os alunos — munidos de gravadores, vídeos, filmadoras ou apenas lápis e papel —
devem observar e registrar o uso que se faz do conteúdo gramatical que vem
sendo desenvolvido nas aulas de língua. Posteriormente, depois de selecionar e
organizar o material colhido, devem confrontá-lo com a variedade padrão e
extrair conclusões, a partir de questionamentos como estes: Houve desvios em
relação à variedade padrão? Quais? Em que circunstâncias (sociais ou
lingüísticas) eles acontecem? Existem razões para sua ocorrência? É possível
sistematizar esses desvios? Eles estão restritos a certos grupos sociais ou a
certas situações em que se exige maior ou menor grau de formalidade no
discurso?
4. Entrevistas
As entrevistas fornecem um excelente material de trabalho com a
língua. Nesse caso, deve-se escolher o perfil do entrevistado de acordo com o
material que se deseja colher. Por exemplo, se se deseja observar a
concordância verbal no uso corrente da língua, pode-se entrevistar um médico,
um comerciante, um porteiro de prédio, um feirante, um jovem. Colhido o
material, é hora de estudá-lo e verificar as variações de concordância e as
relações entre essas variações e o perfil sociocultural dos entrevistados.
Convém que as entrevistas sejam sempre feitas sobre um assunto
diferente daquele estudado nas aulas de língua, para que não haja autocensura
por parte do falante. A entrevista deve ser feita com um gravador à mão e, por
isso, um número pequeno de perguntas faciltará a transcrição das respostas.
5. Textos-cloze
Qualquer que seja a unidade trabalhada, o professor pode fazer
uso da técnica de texto-cloze, que
consiste em escolher um texto em que haja uma incidência significativa do
aspecto gramatical em estudo — por exemplo, substantivo, preposição, sujeito,
orações coordenadas, figuras de linguagem, etc. — e suprimir essas palavras ou
termos, de modo que o aluno complete as lacunas de acordo com o sentido global
do texto, com coerência e coesão. Naturalmente, nesse tipo de exercício, não há
respostas definitivas, mas respostas possíveis.
Essa técnica pode ser utilizada tanto para se introduzir o
assunto — nesse caso, o aluno opera o conceito antes de formalizá-lo — quanto
para aprofundá-lo na forma de exercícios.
Sugestões específicas por unidade
Unidades
1 e 2
Pesquisas
a) O uso de diferentes
linguagens em jornais, revistas e na televisão. Os alunos recolhem/gravam
o material e analisam, por exemplo, como se dá a junção entre a linguagem
verbal, a musical, a gestual, a fotográfica e outras, conforme o caso.
b) A intencionalidade
discursiva em diferentes situações de comunicação: anúncios publicitários,
piadas, letras de música, cartas comerciais, etc.
c) A polissemia
e a ambigüidade na linguagem
publicitária. Os alunos recolhem material em revista e jornais ou gravam
propagandas na tevê ou no rádio a fim de proceder à análise.
d) As funções
de linguagem na música popular brasileira. Os alunos devem trazer a letra
em cartazes e a música gravada, a fim de que todos possam ouvir e acompanhar.
Em seguida, em pequenos grupos, analisam-se as funções de linguagem
predominantes.
e) Os níveis
de língua: a variedade padrão e as variedades não padrão. Os alunos buscam
enunciados que apresentam variedades lingüísticas e analisam-nos, considerando
o grupo social em que foram produzidos. Nesse caso, é possível colher material
nas propagandas, nas músicas populares, nas novelas e nos programas de tevê ou
de rádio, em entrevistas com pessoas conhecidas, em conversas na família ou
entre amigos, etc.
f) O emprego da gíria na linguagem dos jovens. Fazer um cartaz, listar as gírias
mais comuns, com seus respectivos significados, e definir o perfil do grupo que
as utiliza.
g) O emprego estilístico de sonoridades e recursos
da escrita (ortografia, acentuação, tipos de letras, etc.) na linguagem do
poema e da publicidade.
Unidade 3
Entrevistas
Por meio de entrevistas, é possível colher material
para diferentes fins: por exemplo, para observar o emprego de verbos, de
pronomes ou de substantivos e adjetivos e suas respectivas flexões.
a) Verbos:
observar o uso de verbos irregulares, tais como manter, intervir, ver, reaver, etc. Buscar explicações para a
variação, em relação ao padrão culto.
b) Substantivos
e adjetivos: observar o plural dos
nomes e a concordância na língua oral. Há uma forte tendência, quase em todo o
país, de se pluralizar o artigo e deixar o substantivo sem flexão. Por exemplo:
“Vou levar as criança até a festa e já volto”. Ou na concordância entre
substantivos, artigo e adjetivo (na função de predicativo): “Os home daqui são
bobo”. Também é possível observar a concordância do substantivo com o verbo:
“Os morador daqui falaru que participa”, em que se pronuncia a sílaba final –ram com –ru.
Pesquisas
a) Observar, em placas da lanchonetes, de lojas,
de trânsito e em anúncios publicitários, o emprego de empréstimos, principalmente do inglês. Discutir qual a intenção do
anunciante ao fazer esse uso.
b) Observar, em bulas de remédio, a estrutura, a
formação e o significado de prefixos, sufixos e radicais das palavras
relacionadas à farmacologia, normalmente empregadas em bulas de remédio.
c) Em jornais, revistas, anúncios publicitários
(escritos ou televisivos e radiofônicos), com a finalidade de verificar o
emprego:
• das classes gramaticais trabalhadas nos
capítulos desta unidade, observando eventuais desvios, usos e valores
semânticos especiais, etc.;
• do diminutivo e do aumentativo com determinada intencionalidade e com valores
semânticos especiais;
• de verbos em determinado tempo, mas com
valores semânticos de outro tempo verbal; o mesmo em relação aos predicados
verbais;
• do imperativo nas propagandas mais diretas:
“compre”, “leve agora”, “venha conhecer”, “faça um test-drive”, etc. ou de outros tempos e modos verbais que, no
contexto, desempenham o valor de imperativo;
• de verbos em textos narrativos, a fim de
constatar a importância que tem essa classe gramatical para a criação do
dinamismo dessa modalidade textual;
• de adjetivos ou locuções adjetivas nos textos descritivos e na linguagem publicitária,
seja com a finalidade de ressaltar a personagem ou o ambiente (no 1º caso),
seja para ressaltar o produto (2º caso);
• dos
pronomes tu e você, de acordo com as diferentes regiões do Brasil.
Unidade 4
Entrevistas
Por meio de entrevistas gravar a fala de diferentes
grupos socioculturais a fim de observar:
• o uso das concordâncias verbal e nominal na
fala de pessoas de diferentes estratos socioculturais. Descrever os casos mais
comuns em que há desvio da variedade padrão e buscar razões que expliquem o
fenômeno;
• qual tem sido a forma mais comum de
concordância dos verbos ser, fazer e haver (na forma simples ou em locuções dever haver, por exemplo) na língua oral;
• como se dá a colocação dos pronomes oblíquos
átonos no português brasileiro. Confrontar as tendências de nossa língua oral
com o padrão culto escrito ou com a língua portuguesa lusitana. Descrever as
diferenças.
Pesquisas
Observar:
a) em jornais o emprego de certos verbos e de suas
respectivas regências. Por exemplo, como têm sido empregados os verbos assistir (no sentido de “ver”) e visar na imprensa;
b) a presença e a freqüência de certas figuras de
linguagem em:
• letras de músicas
• anúncios publicitários
• poemas
• textos bíblicos
c) o emprego, nas orações do português falado, da
ordem direta (sujeito + verbo + objetos + adjuntos) ou da ordem indireta;
d) o emprego da voz passiva sintética e do
pronome se, como elemento apassivador ou índice de indeterminação do
sujeito, em placas de rua ou de empresas: “precisa-se de torneiro mecânico”,
“aluga-se/alugam-se casas”. Discutir o uso popular dessas concordâncias,
buscando explicações para elas;
e) o emprego do período simples, da coordenação e
da subordinação em jornais televisivos e em jornais e revistas escritos, que se
dirigem a diferentes públicos. Relacionar a maior ou menor incidência de uma
estrutura sintática com o assunto das matérias e com o perfil do público;
f) na linguagem publicitária, o uso de figuras de sintaxe que tornam a
linguagem mais econômica e exigem uma atenção especial da parte do
interlocutor;
g) o emprego de orações adjetivas em textos publicitários,
que têm a finalidade de destacar o produto, ou em textos literários (poéticos e
descritivos), que tenham a finalidade de descrever uma personagem, um ambiente
ou um estado do eu lírico;
h) o uso do acento indicador da crase em situações
cotidianas de comunicação – cartazes ou placas de rua, cardápios em
restaurantes, folhetos bancários, anúncios em coletivos, etc. Confrontar os
resultados com as normas da variedade padrão da língua.
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