Dica de Avaliação para o Fundamental II: Estudo do Texto - Narrativo e Descritivo



Nesse bimestre trabalhamos com o texto narrativo e descritivo. Assim, entendemos por narrar a capacidade de imaginar histórias de ficção e conta-las. Esta capacidade é usada principalmente na criação de contos, fábulas, romances etc. Já, por descrever, entendemos que se trata da capacidade de contar fatos de forma detalhada
Com isso, as sequências narrativas apresentam uma sucessão temporal/causal de eventos (começo/meio/fim; antes/depois) entre as quais ocorre algum tipo de modificação de um estado de coisas. Há predominância de verbos de ação, bem como de advérbios de tempo e causa, tanto em discursos diretos, como em indiretos e indiretos livres. Já as sequências descritivas caracterizam-se pela apresentação de propriedades, qualidades, elementos componentes de uma entidade (referente), sua situação no espaço etc. predominam os verbos de estado, no tempo presente nos comentários e no pretérito imperfeito no interior de um relato.

Desta maneira, fazemos o estudo das características desses tipos de textos.



     Este desenho, do século XI, conta a história da conquista da Inglaterra pelos normandos.   Esta cena descreve uma aparição do cometa, que mais tarde recebeu o nome de Halley.


O cometa


Aos sete anos de idade imaginei que ia presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa mal-humorado visitava o espaço. Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a terra, não haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos. Essas perspectivas eram boas. Mas também não haveria mais geleia, Tico-Tico*, a árvore de moedas que um padrinho surrealista* preparava para o afilhado que ia visita-lo. Ideias que aborreciam. Havia ainda a angústia da morte, tranco final, com a cidade inteira (e a cidade, para o menino, era o mundo) se despedaçando – mas isso, afinal, seria um espetáculo. Preparei-me para morrer, com terror e curiosidade.
O que aconteceu à noite foi maravilhoso. O cometa de Halley apareceu mais nítido, mais denso de luz, e airosamente deslizou sobre nossas cabeças, sem dar confiança de exterminar-nos. No ar frio, o véu dourado baixou ao vale, tornando irreal o contorno dos sobrados, da igreja, das montanhas. Saíamos para a rua banhados de ouro, magníficos e esquecidos da morte, que não houve. Nunca mais houve cometa igual, assim terrível, desdenhoso e belo. O rabo dele media... Como posso referir em escala métrica as proporções de uma escultura de luz, esguia e estelar, que fosforeja sobre a infância inteira? No dia seguinte, todos se cumprimentavam satisfeitos, a passagem do cometa fizera a vida mais bonita. Havíamos armazenado uma lembrança para gerações vindouras que não teriam a felicidade de conhecer o Halley, pois ele se dá ao luxo de aparecer só a cada 76 anos.


ANDRADE, Carlos Drummond de. A bolsa e a vida. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1967.




Cometa Halley




Tico-Tico: era o nome de uma revista infantil que começou a ser publicada em 1905. Foi uma das primeiras revistas, no Brasil, a apresentar histórias em quadrinhos. Sobreviveu até 1956.



Surrealismo: surgiu na França na década de 1920. Este movimento foi significativamente influenciado pelas teses psicanalíticas de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano. A década de 1930 é conhecida como o período de expansão surrealista pelo mundo.


1. Qual o foco narrativo do texto? 

Trata-se de um narrador personagem, em primeira pessoa.

2. Nesse texto, a linguagem foi usada com a função de... 

a) fornecer informações sobre o cometa.
b) convencer o leitor da importância do cometa.
c) contar a experiência do autor relacionada com a aparição do cometa.
d) explicar algum aspecto da própria língua.


3. Retire do texto um trecho que há uma sequência descritiva.


"O cometa de Halley apareceu mais nítido, mais denso de luz, e airosamente deslizou sobre nossas cabeças, sem dar confiança de exterminar-nos. No ar frio, o véu dourado baixou ao vale, tornando irreal o contorno dos sobrados, da igreja, das montanhas. Saíamos para a rua banhados de ouro, magníficos e esquecidos da morte, que não houve. Nunca mais houve cometa igual, assim terrível, desdenhoso e belo. O rabo dele media... Como posso referir em escala métrica as proporções de uma escultura de luz, esguia e estelar, que fosforeja sobre a infância inteira?"

4. Agora que haja uma sequência narrativa.

"Aos sete anos de idade imaginei que ia presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa mal-humorado visitava o espaço. Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a terra, não haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos. Essas perspectivas eram boas. Mas também não haveria mais geleia, Tico-Tico, a árvore de moedas que um padrinho surrealista preparava para o afilhado que ia visita-lo. Ideias que aborreciam. Havia ainda a angústia da morte, tranco final, com a cidade inteira (e a cidade, para o menino, era o mundo) se despedaçando – mas isso, afinal, seria um espetáculo. Preparei-me para morrer, com terror e curiosidade". 


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