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O uso da Informática na educação

Debate na TV Cultura, programa Opinião Nacional
28 de Maio de 1999
O Uso da Informática na Educação

Entrevistador: Heródoto Barbeiro
Comentarista: Carlos A. Sardenberg
Debatedores: Valdemar Setzer e Eduardo Chaves

Heródoto: O uso da Informática na escola ajuda ou atrapalha? Os computadores estão cada vez mais presentes na sala de aula. O professor Valdemar Seltzer da USP considera esse uso prejudicial. Já o professor Eduardo Chaves da Unicamp defende a informática na educação. Muito bem, nós convidamos os dois para um debate aqui. Boa noite, professores.

Valdemar Setzer: Boa noite, Heródoto. Eu publiquei um artigo no jornal O Estado de São Paulo, contra o uso de calculadoras eletrônicas na educação elementar, muito antes de se falar em computadores na educação, acho que foi nos anos 70 e qualquer coisa. Ocorre que essa pessoa não percebe que o aprendizado da aritmética, o decorar da tabuada, representa um esforço mental, um esforço rítmico. O desenvolvimento que a criança faz decorando a tabuada é muito mais importante do que simplesmente sabendo-a de cor. Se se entregar a uma criança uma máquina de calcular muito cedo, a criança vai deixar de passar por essa fase de aprender essa abstração que é a tabuada. Terá deixado de fazer um treino mental essencial para o raciocínio e para a capacidade de memorizar.

Carlos Sardenberg: Mas a criança pode treinar em outras coisas não pode?

Valdemar Setzer: Não, porque a tabuada é algo único, do ponto de vista mental. Eu ainda tenho a esperança de que outras coisas ainda vão desaparecer do ensino, outros modismos vão desaparecer, como o uso exagerado de definições. Essa escola pertence a um sistema pedagógico mundial, a Pedagogia Waldorf. Essa pedagogia, que tem muito sucesso, de todos os pontos de vista (desenvolvimento intelectual, artístico e social), é totalmente diferente do usual. Por exemplo, todas as crianças fazem tricô no primeiro ano. Isso serve como preparação para a aritmética, porque no tricô é preciso contar os pontos e, como em uma conta armada, não se pode pular nenhum passo, perder nenhum ponto.

Heródoto: Como se fosse um ábaco?

Valdemar Setzer: É, mas uma coisa muito mais real, produzindo algo de utilidade.

Heródoto: Professor Eduardo, é tricotando que nós vamos desenvolver o ensino do século XXI?

Eduardo Chaves: Poderia até ser, mas o que eu não consigo entender em posturas como as do Setzer, é por que a criança, que hoje é acompanhada pela tecnologia desde antes de nascer (faz exames de ultrassom, nasce num centro cirúrgico sofisticado, vai para casa de carro, que é uma tecnologia, em casa tem eletricidade, quando não tem uma babá eletrônica para informar os pais que a criança está chorando, etc.), não pode – ou não deve – aprender com o auxílio da tecnologia. Ora, por que pegar computador e a máquina de calcular e dizer: na hora de aprender a criança não pode usar essas coisas? Lá fora você usa toda a tecnologia disponível, mas aqui dentro da sala de aula você só pode usar as tecnologias do livro, do gis, do quadro-negro -- ou do tricô. Não é esquisito?

Heródoto: Professor Valdemar.

Valdemar Setzer: Acontece que a situação é bastante complexa. Eu não sou contra o livro; eles são fantásticos e sua leitura é essencial para o desenvolvimento intelectual e emotivo dos jovens. Só que há idade certa para se começar a ler um livro. Esse aprendizado tem que ser muito lento. É importante entender-se qual é a influência da tecnologia, dos aparelhos, sobre as crianças, e aí perguntar-se: existe idade adequada para começar a usá-los?

Heródoto: Qual é a idade, professor, por favor?

Valdemar Setzer: Bem, a idade que eu cheguei à conclusão nos meus estudos é que deveria ser depois da puberdade, idealmente aos 17 anos. O computador exige uma tremenda autodisciplina, um enorme auto controle e grande maturidade. Imagine essas crianças todas tendo acesso à Internet sem nenhum controle, sem poder julgar o que é bom e o que é mau.

Heródoto Barbeiro: O senhor também acha que o computador só deveria ser usado após a puberdade, professor Eduardo?

Eduardo Chaves: Não, mas estou certo de que esse referencial, elaborado há muito tempo, não leva em conta o fato de que a criança de hoje é muito diferente da criança de 20 anos atrás. Acho que hoje a criança está preparada para a alfabetização muito antes dos 7 anos tradicionais e isso porque, dada a estimulação do meio, repleto de tecnologia, tem uma sofisticação cognitiva que lhe permite lidar com razoável tranquilidade e naturalidade até com máquinas sofisticadas e abstratas, como é o caso do computador e de aparelhos de vídeo game – sem que isso lhe cause qualquer efeito nocivo, no curto e no longo prazo, muito pelo contrário. Um jogo de vídeo game estimula o sistema sensorial-perceptivo, o sistema psicomotor, o sistema cognitivo (o raciocínio) – muito mais do que o tricozinho do Setzer (contra o qual não tenho nada, repito, desde que ele encontre uma criança que prefira aprender fazendo tricô a aprender jogando um vídeo game, ou interagindo com um computador, ou, melhor ainda, interagindo com seus colegas através do computador).

Carlos Sardenberg: Há estatísticas a respeitos disso, por exemplo, você avaliar o desempenho de alunos de escolas que usam o computador e não usam o computador? Há modos de medir isso?

Valdemar Setzer: Sim, um estudo que foi publicado há alguns meses, em que se demonstrou que o uso da Internet produz aumento de depressão e indissociabilidade. Assim, uma pesquisa, naquela mesma universidade, em que se examinou o resultado de testes de matemática de crianças que tiveram aulas de uso do computador, em comparação com outro grupo de crianças que não teve aulas de uso do computador, mas estudou música, estudou piano. O resultado daqueles que estudaram piano foi muito melhor nos testes de matemática dos que tiveram computador. O computador não dá resultados extraordinários, pelo contrário, em minha conceituação ele é extremamente prejudicial à formação intelectual, sentimental e volitiva das crianças e jovens. Isso está sendo comprovado cada vez mais por pesquisas estatísticas.

Eduardo Chaves: Ninguém está defendendo que só se use a tecnologia na escola, que a escola abra mão do uso da pintura, da música, da arte em geral. Algumas dessas pesquisas mostram que se o indivíduo ficar fixado no computador 10 ou 12 horas por dia, ele pode sofrer efeitos nocivos para a sua personalidade, da mesma forma que se ele ficar trancado numa biblioteca, lendo 12 horas por dia, se ele não tiver uma vida social, se não se movimentar, brincar, correr, se não fizer outras coisas além de ler, isso também pode prejudicá-lo...

Carlos Sardenberg: E se ele ficar a tarde inteira decorando tabuadas?...

Eduardo Chaves: É a mesma coisa.

Valdemar Setzer: Não sei se o Eduardo Chaves sabe, existem várias universidades americanas que estão com aconselhamento psicológico para estudantes que são viciados na Internet, porque ela está prejudicando seus estudos de uma maneira extraordinária. Eu pergunto aos senhores o seguinte: alguém já ouviu falar de "rato" de biblioteca que fosse mal nos estudos?

Eduardo Chaves: O problema, Setzer, não é a Internet: é o vício. Ser viciado em qualquer coisa é sempre ruim – ainda que o objeto do vício seja, fora do contexto do vício, alguma coisa boa.

Valdemar Setzer: Um aluno viciado em biblioteca não irá mal nos estudos.

Eduardo Chaves: Qualquer coisa em excesso, até uma coisa boa, é prejudicial.

Valdemar Setzer: Nenhum aluno viciado em biblioteca foi mal nos estudos.

Heródoto: Eu quero agradecer a presença dos dois aqui, professor Valdemar, Professor Eduardo.

Disponível em .
Acesso em: 27 de ago. 2018 (Adaptado pela professora Fabiane Senday)

1. Explique o que é o gênero jornalístico entrevista e como é estruturada, além de citar como é trabalhado a questão da linguagem. 



2. Segundo o ponto de vista de cada professor entrevistado, complete a tabela abaixo: 


O Uso da Informática na Educação
Valdemar Setzer

Eduardo Chaves









3. A que área da educação Valdemar Setzer está ligado, pelo que se pode entender no texto: informática, matemática, artes ou pedagogia? Justifique sua resposta com um trecho do texto. 



4. Releia.
  "Na Pedagogia, Waldorf usa tricô no primeiro ano".



Explique que relação o debatedor faz entre o tricô e a matemática. 



5. Segundo os elementos do debate, complete. 

O Tema do Debate

Os debatedores

A profissão dos debatedores

O moderador do debate

O comentarista do debate


6. O outro participante, Eduardo Chaves, concorda com Valdemar Setzer? Explique. 



 7. Você acredita que para se realizar uma entrevista é necessário um planejamento? Justifique. 




8. Complete. 

Ø  Vimos que a entrevista é um gênero jornalístico recorrente da sociedade. Presente em diferentes veículos de comunicação, ela pode ser facilmente reconhecida por sua estrutura: título, _____________ e diálogo entre _____________ e ____________. As perguntas realizadas em uma entrevista devem seguir um _________________.

a)      introdução, entrevistador, entrevistado, roteiro.
b)      questão inicial, entrevistador, debatedor, padrão.
c)      apresentação, entrevistador, debatedor, pesquisa.
d)      saudação, entrevistador, entrevistado, tese.

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