Literatura na escola - 6º ano



Contos de Carlos Drummond de Andrade

Introdução: Esta é a primeira de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.


Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver a competência leitora;

desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico;

inferir as características do gênero conto e o contexto histórico e literário do livro;

estabelecer relações entre o lido \ vivido ou conhecido (conhecimento de mundo); conhecer alguns elementos básicos da narrativa; perceber alguns efeitos estéticos da obra literária, principalmente aqueles que geram humor.

Conteúdos: Elementos da narrativa: narrador, enredo, personagens, tempo, espaço e tipos de discurso; verossimilhança na narrativa de ficção; quebra de expectativa com efeito de humor.

Tempo estimado: Cinco aulas.

Material Necessário: Livro Rick e a Girafa, Carlos Drummond de Andrade, Editora Ática.


Desenvolvimento

1ª etapa: Antecipação/Sensibilização

Pergunte aos alunos se eles já ouviram falar do escritor Carlos Drummond de Andrade. Peça que pesquisem, em casa, a biografia do autor.
Após a leitura da biografia, converse com os alunos sobre o fascínio que o autor tinha pelas palavras, desde sua infância.

2ª etapa: Leitura compartilhada do 1º conto

Apresente à turma o livro Rick e a Girafa, antologia com 27 contos de Drummond. Peça que os alunos leiam um conto por dia em casa. São histórias pequenas e fáceis de ler.
Em seguida, proponha a leitura em sala de aula da narrativa "Pescadores". Quando os alunos terminarem, faça algumas perguntas e peça que registrem as respostas no caderno:

 - Por qual motivo essa narrativa faz parte do capítulo "Confusões e surpresas”? Discuta com a sala se há confusões e surpresas no conto.
- Por qual motivo a narrativa se torna engraçada?

Analise com a sala como as quebras de expectativa geram humor no conto.


3ª etapa: Análise do conto - tipos de discurso

Mostre à turma, por meio da narrativa “Pescadores”, o que é discurso direto. Analise como a estratégia desse tipo de discurso ajuda a dar vivacidade à cena, aproximando o leitor dos fatos narrados. Aproveite para explicar aos alunos que uso de travessões marca a fala dos personagens. Com isso, ainda que não apareçam verbos de dizer (elocução), o leitor consegue distinguir quem está falando.

4ª etapa: Análise do conto - foco narrativo

Pergunte aos alunos quem está contando a história. Certamente, alguns responderão que é o escritor Carlos Drummond de Andrade. Explique a eles que o autor é decisivo só no momento da escritura. Depois de a obra estar pronta, ela fala por si só. O escritor apenas imagina a história, as personagens, o cenário e cria alguém responsável pelo ato de narrar.
Explique à turma que o narrador é, assim como tudo na narrativa, um ser de papel, inventado, ficcional. Mostre aos alunos que as narrativas podem ser contadas tanto por um alguém que participa da história (narrador-personagem), quanto por alguém de fora (narrador em 3ª pessoa). Lance a seguinte questão: Quem conta a história “Pescadores”? Peça que a classe retire do texto fragmentos que comprovem a resposta.

5ª etapa: Análise do conto – verossimilhança

Lance as seguintes questões à moçada:

- Os fatos narrados aconteceram na vida real?
- Você diria que as personagens dão a impressão de existirem verdadeiramente?
- A casa de um dos pescadores existe de verdade? E a família?
Ouça as repostas dos alunos e comente sobre a narrativa de ficção, mostrando que ela é verossímil, ou seja, assemelha-se à realidade, mas é inventada.
Terminada a análise do primeiro conto, solicite que os alunos leiam outros contos. Podem ser elaboradas atividades semelhantes às descritas acima.

Avaliação: Peça que os alunos leiam três contos determinados por você. Em uma aula, individualmente e com consulta ao livro, entregue questões que contemplem os elementos trabalhados anteriormente – tipos de discurso, narrador, efeito humorístico e verossimilhança – e peça que os alunos respondam por escrito


A narrativa de Graciliano Ramos

Introdução: Esta é a segunda de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.

Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver a competência leitora; desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico; estabelecer relações entre o lido / vivido ou conhecido (conhecimento de mundo); conhecer / exercitar alguns elementos básicos da narrativa; discutir relações de diferença / discriminação.

Conteúdos: Elementos da narrativa: narrador, enredo, personagens, tempo, espaço e tipos de discurso; conceitos de real e imaginário; conceitos de Diferença, Tolerância, Preconceito e Discriminação.

Tempo estimado: Cinco aulas

Material necessário: Livro A terra dos meninos pelados. Graciliano Ramos, Editora Record.

Desenvolvimento

1ª etapa: Antecipação/ Sensibilização

Pergunte aos alunos se eles já ouviram falar de Graciliano Ramos (1892-1953) e se eles conhecem alguma obra que ele publicou. Conte à turma que, quando o escritor alagoano decidiu produzir livros para crianças, já era um nome conhecido na literatura brasileira e havia publicado duas importantes obras adultas: São Bernardo, de 1934 e Angústia, de 1936.
Explique à classe que, em 1937, Graciliano Ramos resolveu concorrer a um prêmio literário proposto pelo Ministério da Educação e inscreveu uma história não muito longa e bastante original, chamada "A terra dos meninos pelados", que será lida pela turma nas próximas aulas. A narrativa foi a vencedora, mas não contou com muitos apreciadores na época.
Em seguida, peça que os alunos leiam os dois primeiros capítulos do livro e discuta com eles o conflito vivido pela personagem principal. Raimundo era diferente dos outros meninos? Como? Por que os outros meninos mangavam dele? Pergunte se a classe concorda com a atitude dos outros meninos e como acham que Raimundo se sentia. Discuta a ideia de preconceito e respeito às diferenças.

2ª etapa: análise dos dois primeiros capítulos - tipos de discurso

Peça que os alunos observem que, nos capítulos 1 e 2, poucas vezes a personagem principal fala. Questione a classe sobre o motivo dessa ausência de voz. Em seguida, pergunte se nesses capítulos predomina o discurso direto ou indireto (lembre a turma dos conceitos aprendidos na primeira sequência didática desta série, sobre o livro "Rick e a girafa", de Carlos Drummond de Andrade). Peça que transcrevam as ocorrências do discurso predominante.
Observe que Raimundo fala pela primeira vez apenas no capítulo 2: "- Era melhor que me deixassem quieto, disse Raimundo baixinho." Pergunte à moçada por que ele demora a falar? Por que fala "baixinho"? O que essa fala revela?
Para a aula seguinte, peça que os alunos leiam o 3º capítulo do livro.




3ª etapa: Análise do 3º capítulo - tipos de discurso e foco narrativo

Retome os dois primeiros capítulos de "A terra dos meninos pelados", e comente com a turma que, neles, predomina a voz do narrador:

- "Havia um menino diferente dos outros meninos".
- "Um dia em que ele preparava com areia molhada a serra de Taquaritu e o rio das Sete Cabeças, ouviu gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores..."
Comentar que, a partir do capítulo 3, começa a aparecer mais intensamente a voz de Raimundo e peça que os alunos arrisquem uma interpretação. Por que isso ocorre?

Uma possível explicação é que, a partir do momento em que Raimundo transfere-se para o mundo imaginário, diminui a aparição do narrador em 3ª. pessoa. Isso não quer dizer que, de uma hora para outra, a história muda de foco narrativo (retomar o conceito de foco narrativo discutido na leitura de "Rick e a girafa"). Pelo contrário, o narrador continua seguindo a trajetória de Raimundo, só não interfere em momento algum com descrições, comentários, explicações, deixa Raimundo dialogar, conviver com seus novos amigos sem a presença de um adulto ou voz autoritária. Por esse motivo o discurso direto permeia toda a história.

4ª etapa: O real e o imaginário

Peça que os alunos respondam por escrito:

1- No capítulo 3, Raimundo resolve momentaneamente o seu problema. Para onde Raimundo vai?
2- Essa viagem é mágica? Justifique.
3- No mundo imaginário, não se busca a lógica dos fatos, nem a realidade concreta, lá tudo é possível e todas as coisas podem acontecer. Como é a terra dos meninos pelados? Descreva-a.
4- No mundo imaginário, por mais iguais que as crianças sejam, ainda assim, mantêm diferenças que as distinguem. Que diferenças são essas? Retire do texto fragmentos que comprovem sua resposta.
5- Durante toda a narrativa, Raimundo tem consciência da realidade. Considera a terra imaginária excelente para se viver, mas sabe que deve voltar para a realidade. Retire do texto fragmentos que indicam lembranças que ele tem do mundo real.

Peça que os alunos leiam em casa os demais capítulos do livro.

5ª etapa: diferença e discriminação


Discuta oralmente com a classe os seguintes pontos:


1- Logo que Raimundo vê as crianças, algo semelhante ao mundo real lhe acontece. O que acontece? Como Raimundo reage?
2- Sardento propõe a Raimundo um plano. Que plano é esse?
3- O que Raimundo acha desse plano? Qual o conselho ele dá ao amigo?
4- A atitude de Raimundo é contrária à que toma no mundo real? Por quê?
5- O nome "Raimundo" significa "protetor" ou "sábio". Indica uma pessoa que tende a se isolar, pois é muito rigorosa consigo mesma e supervaloriza as virtudes e opiniões dos outros. Porém, quando essa pessoa se conscientiza de sua própria importância, torna-se capaz de dar apoio e conselhos valiosos a todo mundo. Tendo como base a informação sobre o nome "Raimundo", você considera coerente com a atitude da personagem principal, no momento em que ela orienta Sardento?
6- No capítulo 11, os novos amigos de Raimundo querem lhe dar outro nome: "Mundéu" ou "Pirundo". Por qual motivo Raimundo não deseja trocar seu nome?
7- "Raimundo diz para Sardento que o fato de ele ter sardas na pele não muda nada, já que todos o amavam". Essa atitude revela um amadurecimento de Raimundo?
8- A terra dos meninos pelados, segundo a estudiosa Regina Zilberman, pode ser julgada como um texto politicamente correto, ao falar de pessoas perseguidas pelos preconceitos da sociedade, que sabem dar volta por cima, não por se adaptarem aos valores predominantes, mas por se aceitarem como são. Vocês concordam com a opinião da autora? Considera que Raimundo volta para a realidade mais forte para encarar os preconceitos?

Tempo estimado: Cinco aulas

Material necessário: Livro Os cavalinhos de Platiplanto. José J. Veiga. Bertrand Brasil.

Desenvolvimento



Avaliação: Em uma aula, individualmente e com consulta ao livro, entregue questões que contemplem os elementos trabalhados anteriormente (tipos de discurso, narrador, realidade/imaginação e diferença/discriminação) e peça que os alunos respondam por escrito.
  
Contos de José J. Veiga

Introdução: Esta é a terceira de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.


Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver a competência leitora; desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico;

estabelecer relações entre o lido / vivido ou conhecido (conhecimento de mundo);

conhecer / exercitar alguns elementos básicos da narrativa (foco narrativo, tempo e espaço); discutir o papel da literatura como fonte de repertório para um imaginário mais rico.


Conteúdos: Elementos da narrativa: narrador, tempo e espaço; conceitos de real e imaginário; conceitos de tempo do enunciado e tempo da enunciação.
1ª etapa: antecipação/sensibilização

Pergunte se os alunos já ouviram falar do escritor José J. Veiga? Conhecem alguma obra que ele publicou? Ouça as repostas e apresente à turma as informações abaixo.
 José Jacinto Pereira Veiga (1915-1999) nasceu em Corumbá, uma pequena vila a 150 quilômetros de Goiânia (GO), e dizia dever a escolha de seu nome literário à ajuda de Guimarães Rosa que, com argumentos numerológicos e estilísticos, sugeriu José J. Veiga, na altura da publicação do livro de estreia "Os Cavalinhos de Platiplanto", em 1959.
Faça uma leitura compartilhada do primeiro conto: "A Ilha dos Gatos Pingados”, seguida de troca de impressões gerais.




2ª etapa: análise de “A Ilha dos Gatos Pingados” - tempo do enunciado e tempo da enunciação



Retome o enredo do conto com a classe, assim como as impressões gerais – elas são importantes para que o professor possa achar o fio condutor da análise literária. Em seguida, releia com a turma o seguinte trecho:

“Já sei o que vou fazer. Se Cedil não voltar até o fim do ano, vou-me embora para o sítio de minha avó. Lá eu vou ter uma bezerra pra tirar cria, um cavalinho para montar e muitas coisas pra fazer o dia inteiro. É melhor do que ficar aqui feito bobo, pensando toda a vida na ilha, nos brinquedos que a gente brincava, nas coisas que Cedil e Tenisão diziam, e até nos sustos que passávamos, como no dia que a jangada quase afundou com nós três.”(página 1)

Discuta com os alunos:

- Quem é o narrador desse fragmento? Ele participa da história? Como você o caracteriza?
- O fragmento revela que o narrador conta os fatos após algum tempo. Retome o conto, se precisar, e pergunte quanto tempo se passou desde que os fatos narrados ocorreram?

Explique os conceitos de tempo da narração e tempo do narrado (ou tempo da enunciação e tempo do enunciado). Diga à turma que o narrador/personagem conta a história da Ilha dos Gatos Pingados aproximadamente um mês depois de ela ter sido vivida. A experiência dos meninos se revela tão intensa que o narrador parece profundamente transformado e o intervalo entre o tempo da narração e o tempo do narrado aparenta ser bem maior.

- Parece que faz só um mês que o narrador/personagem viveu o que conta? Por quê?


3ª etapa: análise de “A Ilha dos Gatos Pingados” – o Espaço como ambientação


Releia com a classe o relato a respeito da ilha.

“Lá ninguém ia, o mato era fechado na beira da água, mas varando o mato o resto era limpo, dava muito cará e sangue-de-cristo. Não tinha era canoa, a que costumava ter tinham tirado, com certeza justamente pra menino não atravessar. O jeito era fazer uma jangada de toro de bananeira”.

Depois o compare com um relato posterior:

“Eu gostava bem da ilha, mas acho que gostava mais era por causa de Cedil. Ele tinha deixado de falar em afogar ou fugir, decerto porque Zoaldo estava viajando... Mas Cedil não parecia o mesmo, todo dia inventava um brinquedo novo”.

Discuta com a sala os seguintes pontos:
- Onde se passa a história?
- O que acontece com Cedil?
- Por que os meninos decidem montar casa na ilha?
- A ilha é apenas um esconderijo ou representa algo mais para eles?
- A ilha significa a mesma coisa para Cedil e para os outros meninos?

Para ajudar na reposta, leia o trecho abaixo:

Os espaços de “A ilha dos gatos pingados” são de grande importância para a vida dos narradores e dos personagens, são neles que acontecem os eventos mais brutais da vida cotidiana. As narrativas têm como narradores e/ou protagonistas, crianças diante de preocupações e questionamentos sobre a vida e envolvidas em alguma situação de repressão, ou de morte. Oposto a isso, há um outro lugar: mágico, exótico, distante, capaz de fazer esquecer todos os desgostos enfrentados pelas criaturas de papel: tanto o narrador quanto as personagens. É a Ilha dos Gatos Pingados.

4ª etapa: leitura compartilhada “Os cavalinhos de Platiplanto”

Reserve um tempo para a leitura compartilhada de “Os cavalinhos de platiplanto”, seguida de troca de impressões gerais.

5ª etapa: análise “Os cavalinhos de Platiplanto”: o real e o imaginário

O conto “Os cavalinhos de Platiplanto” se inicia com o seguinte fragmento: 

“O meu primeiro contato com essas simpáticas criaturinhas deu-se quando eu era muito criança.” (p.27)

Percebemos que quem nos conta os fatos é um narrador em 1ª. pessoa que, via memória, recupera os fatos vividos por ele ainda muito criança. Aqui, como em “A Ilha dos Gatos Pingados”, há uma diferença entre o tempo da enunciação e o tempo do enunciado, só que agora a diferença é entre infância e idade adulta.
Destaque o fragmento a seguir e discuta com a turma:

“Quando a gente é menino parece que as coisas nunca saem como a gente quer. Por isso é que eu acho que a gente nunca devia querer as coisas de frente por mais que quisesse, e fazer de conta que só queria mais ou menos. Foi de tanto querer o cavalinho, e querer com força, que eu nunca cheguei a tê-lo.”

O fragmento acima revela um posicionamento de alguém já amadurecido, ou seja, os fatos vividos quando criança são interpretados de outra forma por alguém que, distante no tempo, com uma postura mais reflexiva, resolve rememorá-los. O narrador, diante da impossibilidade de ganhar o cavalinho do avô, sente o gosto amargo da frustração. Porém, para atenuar essa decepção, a criança foge para um mundo imaginário.

Destaque os fragmentos a seguir: 

Eu não entendia por que uma pessoa como meu avô Rubem podia mudar, mas fiquei com medo de perguntar mais; mas uma coisa eu entendi: o meu cavalinho, nunca mais. Foi a única vez que eu chorei por causa dele, não havia consolo que me distraísse.
Não sei se foi nesse dia mesmo, ou poucos dias depois, eu fui sozinho numa fazenda nova e muito imponente, de um senhor que tratavam de major. A gente chegava lá indo por uma ponte, mas não era ponte de atravessar, era de subir.

Discuta com a moçada:

- Como o menino vai para a fazenda do major?
- O espaço para o qual o narrador-personagem é transportado é espaço físico (real) ou imaginário? Que elementos o texto nos oferece para afirmar isso?

Explique à turma que o sonho do garoto se inicia com a ida dele a uma fazenda desconhecida. O espaço se apresenta como um lugar novo, reelaborado, idealizado pelo inconsciente, totalmente diferente dos locais que o sonhador está acostumado a frequentar.
A chegada a esse local é feita por uma ponte que não era de atravessar, mas de subir. O símbolo é recorrente nas narrativas de José J. Veiga e indica uma passagem para o distanciamento entre o plano real e o plano imaginário. A presença da ponte para se chegar ao outro lado também pode ser vista como uma passagem difícil a ser superada. Ela coloca o homem sobre uma via estreita onde ele encontra a obrigação de escolher se continua a travessia ou desiste de superar aquele desafio.

Na narrativa “Os cavalinhos de Platiplanto”, o imaginário se torna o espaço onde as frustrações podem ser atenuadas e as vontades realizadas. O desejo que o menino tinha de receber o cavalinho prometido por seu avô aparece realizado nos vários cavalinhos coloridos que se exibem na fazenda do Major, mas que não podem sair de lá.

Pergunte aos alunos por que os cavalinhos não podem nunca sair da fazenda?

Destaque o trecho abaixo:

Depois de tudo o que eu tinha visto achei que seria maldade escolher um deles só para mim. Como é que ele ia viver separado dos outros? Com quem ia brincar aquelas brincadeiras tão animadas? Eu disse isso ao major, e ele respondeu que eu não tinha que escolher, todos eram meus.[...] Mas depois fiquei meio triste, porque me lembrei do que o major tinha dito que ninguém podia tirá-los daqui.[...] Eles só existem em Platiplanto.(p. 35)

Conclua com a turma que “Os cavalinhos de Platiplanto” mostram a importância da imaginação para que possamos suportar certas durezas do mundo real. Discuta com os alunos o papel da literatura como fonte de repertório para um imaginário mais rico.

Avaliação: Em uma aula, individualmente e com consulta, entregue questões dirigidas a outros contos do livro, que contemplem os elementos trabalhados anteriormente – narrador, tempo do enunciado e tempo da enunciação e espaço; real e imaginário – e peça que os alunos respondam por escrito.



Poemas de Paulo Leminski

Introdução: Esta é a quarta de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.

Objetivos: Estimular o gosto pela leitura; desenvolver a competência leitora; desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico; estabelecer relações entre o lido / vivido ou conhecido (conhecimento de mundo); conhecer a diferença entre sentido literal e figurado; perceber a particularidade da palavra poética.


Conteúdos: Sentido literal e sentido figurado (ou denotativo e conotativo);

Paráfrase e interpretação; eu lírico ou eu poético; forma literária.

Tempo estimado: Três aulas

Material necessário: Livro Melhores Poemas Paulo Leminski. Editora Global.

Desenvolvimento

1ª etapa: Sentido literal x sentido figurado – paráfrase dos poemas

Coloque no quadro os seguintes poemas de Paulo Leminski:

1)       
você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo

nem fale em amor
que amor é isto

2)
amarga mágoa
o pobre pranto tem
por que cargas-d’água
chove tanto
e você não vem?

3)
coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro

Peça que os alunos respondam por escrito:

1. O que fala cada um dos poemas? Faça uma “paráfrase” de cada poema, ou seja, explicite seu conteúdo no nível mais literal possível (saiba mais no Box abaixo).
2. Do que falam os poemas? Arrisque uma interpretação do sentido figurado, das entrelinhas de cada poema.

Na paráfrase, o leitor deve se ater ao que as palavras significam literalmente, no seu sentido usual, como se estivessem fora de contexto. Quando interpretamos um poema, buscamos seu sentido figurado, aquele que só existe em situações não usuais. Para isso, temos que ler nas entrelinhas.
Assim, literalmente no poema 1 um Eu lírico reclama a ausência de um Tu poético que está longe e diz que isso é amor. No segundo poema, a primeira estrofe fala que o pranto tem uma mágoa amarga e, na segunda estrofe, o Eu lírico pergunta por que o Tu poético não vem, já que chove muito. No último poema, o vento balança uma rede vazia.
Discuta com a classe como uma leitura literal empobrece e distorce o verdadeiro sentido dos poemas.

2ª etapa: Interpretação dos poemas

Retome o sentido literal de cada poema com a classe e peça que eles exponham suas ideias sobre o sentido figurado. Lembre-se que um bom poema pode comportar mais de uma interpretação.
O primeiro poema fala do sentimento de vazio provocado pela ausência da pessoa amada, e que amar é sentir-se deixar de existir diante da ausência do outro. No poema dois, realizando uma analogia entre o choro e a chuva, o Eu lírico também reclama a ausência do ser amado. No último poema, o Eu lírico constata o vazio diante da ausência de um ser que preenchia uma rede com seu corpo e agora não a preenche mais.
Discuta com a sala:
- Os três poemas falam da mesma coisa?
- Os três poemas falam do mesmo jeito?
- No que os poemas são diferentes?

3ª etapa: Análise dos poemas: conceito de Forma Literária

Retome os três poemas e a discussão anterior.
De fato, os três poemas de Paulo Leminski se aproximam tematicamente na medida em que tratam de ausência e saudade. No entanto, é importante observar que são muito diferentes no que se refere à sua forma: para falar do mesmo “assunto”, cada um usa uma imagem e cada um faz um jogo diferente com as palavras. Vejamos:
O primeiro poema figura a saudade do ser amado usando uma rima bastante significativa: existo e isto. O ser amado vai para longe e ele sente como se não existisse e, muito por meio da rima, afirma que isso é que é o amor.
O segundo poema figura o mesmo tipo de saudade fazendo uma analogia entre o pranto e a chuva. Quando o Eu lírico pergunta “porque cargas d`água chove tanto e você não vem” e a palavra “vem” rima com a amarga mágoa que o pobre pranto “tem”, percebemos a analogia entre pranto e chuva. O que o Eu lírico reclama é a ausência do ser amado mesmo diante de seu intenso sofrimento (traduzido em pranto, figurado em chuva).
O último poema, rimando vento e dentro, figura a ausência por meio da imagem de uma rede vazia.
Mostre aos alunos que, na linguagem poética, a FORMA vale tanto quanto o CONTEÚDO. Mais que isso, o conteúdo só ganha sentido por meio da forma. Em poesia, e em arte de um modo geral, FORMA É CONTEÚDO.

Avaliação: Em uma aula, individualmente e com consulta ao livro e ao caderno, peça que os alunos respondam as mesmas questões com poemas diferentes.


Artigo tirado da revista Nova Escola

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