A Estilística da frase - Parte I




FRASE: veicula os valores expressivos em potencial nas palavras, as quais, somente nela, têm o seu sentido explicitado e adquirem seu tom particular – neutro ou afetivo.

O importante é analisar a expressividade peculiar de cada construção, aspectos que interessam à estilística.

I – FRASES COMPLETAS (SIMPLES)

 As frases de predicado nominal podem ter valor intelectual quando exprimem um fato, uma classificação, uma definição ou uma descrição objetiva.
O sol é uma estrela. / A terra é redonda.

 As frases de predicado nominal têm valor emotivo quando se prestam à expressão de julgamento de valor.
A vida é bela. / Este poeta é um gênio!

ou quando veiculam imagens que constituem definições fantasiosas, modos pessoais de interpretar a realidade.
O campo é o ninho do poeta.

 As frases com verbo transitivo exprimem o dinamismo da vida em seus aspectos físico, emocional e social.

As plantas produzem alimentos.
O ladrão arrombou o cofre.
O vento derrubou a rosa.

 O adjetivo predicativo do sujeito alterna freqüentemente com o advérbio, tirando os estilistas proveito dessa dupla possibilidade. Eça de Queirós descreve o cair da neve em múltiplas construções:

A neve caía, levemente.
A neve ia caindo direta e vaga....
A neve caía triste.
A neve caía desfeita e branca.
A neve caía, contínua, silenciosa.



II – FRASES COMPLETAS (COMPLEXAS)
As orações que entram numa frase apresentam maior ou menor grau de dependência e coesão.

A- Na coordenação

Construção assindética (ausência de conjunção entre as orações): tem um tom mais espontâneo, menor rigor lógico, é mais ágil, sugere a simultaneidade (sem vocábulo com a função específica de estabelecer nexo).
Amaro fungava, resmungava, franzia a cara cabeluda...
(Graciliano Ramos)

Construção sindética (coesão entre as orações reforçada por um nexo): construção mais enfática, visto que pode destacar cada uma das orações.

Monteiro Lobato, concluindo a descrição do salão de baile do Príncipe Escamado, para obter o máximo de ênfase, diz:

“ O salão parecia um céu aberto (...)Não houve ostra que não trouxesse a sua pérola, para pendurá-la num galhinho de coral ou jogá-la ali como se fosse cisco. E o que não era pérola, era flor e o que não era flor era nácar, e o que não era nácar era rubi e esmeralda e ouro e diamante. Uma verdadeira tontura de beleza!” (Reinações de Narizinho, em Obras Completas, p. 21)

B – Na subordinação (relação de dependência entre termos da oração)

As orações podem ter formulação bastante variada, com diferentes graus de intensidade e índice de ocorrência. Por exemplo:

 com a conjunção embora ou equivalentes: “Embora sofra muito, não se queixa.” Machado de Assis gostava muito da construção com posto, seguido ou não de que. (“O código, posto que velho, valia por trinta novos...”)

 com intensificadores como por mais que, por menos que, por muito que, por pouco que, constroem-se também frases em que a oposição é bastante enfatizada: “Por mais que me expliquem esse problema, não consigo entendê-lo.”

A preferência por períodos mais curtos ou mais amplos depende do gosto pessoal do escritor, do estilo da época ou do gênero de composição.
III – FRASES INCOMPLETAS (ELÍPTICAS): há ausência de elementos lingüísticos e podem apresentar vários graus de implicitação e de afetividade. Nesse caso, a entoação é forte portadora de significado.

Bonita, esta menina. (incompleta): realça o adjetivo; a pausa marca a entoação diferenciada.
Esta menina é bonita. (completa)


Cada macaco no seu galho é mais impressivo que seria Cada macaco deve ficar em seu galho. A força expressiva está mais no sentido metafórico e valor tradicional da frase feita, mas a estrutura também é importante.

 Frases de um só membro: o sentido se completa com um segundo membro não expresso, mas inerente ao contexto. Normalmente tem função referencial e conativa (comunicam e advertem).

Fechado para almoço. / Silêncio. / Prazer em conhecê-lo. / Caramba!

Pátios de seixos.
Escadas. Boticas.
Pontes. Conversas.
Gente que chega e que passa.
E as idéias.
Amplas casas. Longos muros.
Vida de sombras inquietas.[...]
(Cecília Meireles. Obra poética)

 Frases desarticuladas resultam num texto denso, um painel sintético de uma região e de uma época. Produzem efeito de um enfoque sucessivo de traços significativos das coisas, pessoas, cenários.

 Frases fragmentárias: frases incompletas que são fragmentos destacados de outras frases mediante a entoação; sua significação depende do relacionamento com as frases de que se destacaram.

Na outra rua tocavam piano. Monotonamente.

 O advérbio só se justifica ao ser ligado à expressão verbal “tocavam piano”. Estilisticamente, o termo destacado ganha um relevo maior do que teria integrado normalmente na construção lógica. Assim, exprime julgamento. Do contrário, apenas uma constatação.
Elipse: meio de expressão resultante da ausência de elementos lingüísticos que a mente não procura mais restabelecer.

 Expressão hesitante ou truncada do pensamento: “Eu só queria...”
 Economia lingüística: Cristais / copos de cristal
 Movimentos afetivos: Não é possível! Como?! Você aqui?? Fora!! São as que servem à função emotiva e mais interessam à estilística.

Quando o Bento Porfírio veio a conhecer a prima de-Lourdes, ela já estava casada com o Alexandre. Foi só ver e ficar gostando. E ela também. (Guimarães Rosa)
... e ficar gostando dela. E ela também ficou gostando dele.

O negrinho se endereça a ele, mas agora com requintes de suaviloqüência. Guimarães Rosa
... agora o faz com requintes...

Pleonasmo (redundância): informação transmitida por uma quantidade de signos lingüísticos superior ao essencialmente necessário.

 Pleonasmo expressivo: o que enfatiza as idéias transmitidas; como recurso de estilo, imprime vigor, vivacidade ao pensamento.

O Patori... tinha matado assassinado um rapaz.
Guimarães Rosa dá ênfase à fala de seus sertanejos.

Educação, só a tinham os nobres.
(Monteiro Lobato)
o termo destacado e retomado por um pronome fica enfatizado, ganha vigor maior do que numa construção lógica.

A ordem dos termos na frase é um aspecto de máxima relevância para a feição estilística da frase e do texto, visto que determina o ritmo e a valorização de idéias e sentimentos, propiciando efeitos variados.

Oh! Ver não posso este labéu maldito! (Castro Alves)
Desse professor ninguém gosta.
É um encanto essa criança!
Fita-o com interesse, ao tipo que tem mãos de mulher, ruivos os cabelos enormes. (Adonias Filho)
 Dessa forma, o adjetivo ruivos é enfatizado; se a frase fosse logicamente articulada, a força expressiva seria reduzida.

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