Fonologia




1. Definição

Fonologia, palavra que reúne dois radicais gregos significando “som” e “estudo”, significa, portanto, “estudo do som”. É a parte da gramática que se ocupa não de qualquer tipo de som, mas do som como elemento distintivo na língua, do som como fonema.
Fonema é o som de valor opositivo no sistema coletivo da língua, de caráter regular e fixo, e por isso mesmo sistemático (método organizado). Para entender como o fonema é um som que funciona como uma unidade distintiva, compare, por exemplo, o par casa/cara; os fonemas s/r estão em oposição, em contraste (oposição entre duas coisas, das quais uma faz sobressair a outra), e constituem o elemento sonoro que está distinguindo uma palavra da outra. O mesmo se pode dizer dos sons c/p no par cara/para, e assim com todas as palavras da língua. Dessa forma, economicamente, com um número estrito de sons, cada língua cria um universo vastíssimo de palavras. Os fonemas, em seu conjunto, formam o sistema fônico da língua –são os seus sons distintivos elementares.

Não confunda som e letra! Com o alfabeto, representamos convencionalmente os sons da língua, mas essa representação não se faz de forma mecânica: um mesmo som pode, por exemplo, pode ser representado por letras diferentes: achar –mexer; ou sons diferentes podem ser representados pela mesma letra: casa –sapo. O alfabeto que usamos para grafar o português tem vinte e três letras, mas a língua portuguesa tem mais do que vinte e três sons distintivos, ou fonemas!


2. Produção e classificação dos fonemas

Os fonemas são produzidos por meio do aparelho fonador, conjunto de órgãos humanos que nos permitem falar. É composto fundamentalmente:

  • dos pulmões, que, como foles, emitem a corrente de ar;
  • das cordas vocais, que existem na laringe, de cada lado da abertura da glote, e produzem a sonorização da corrente de ar;
  • dos seguintes órgãos, que, articulando-se, podem imprimir as mais diversas modificações na mesma corrente de ar: os lábios, os dentes com os alvéolos, a língua (com ápice –que é o ponto mais alto ou extremo da língua-, dorso –parte de trás- e raiz), o palato duro e o véu palatino com a úvula, o qual, quando está abaixado, permite comunicação com as fossas nasais.

3. Fonemas surdos e sonoros

Se a corrente de ar emitida para produzir um fonema encontra a glote cerrada ou semicerrada, força através dela a passagem e faz vibrar as cordas vocais: o fonema então produzido é sonoro; se, ao contrário, a glote estiver suficiente aberta, e, portanto, livre à passagem, não vibram as cordas vocais, e o fonema assim produzido se diz surdo.

Exemplos:

O /s/ é surdo (selo), o /z/ sonoro (zelo).
O /f/ é surdo (faca), o /v/ sonoro (vaca).
4. Fonemas orais e nasais

Quando a corrente de ar que produz o som chega ao fundo da boca, na faringe, pode seguir dois caminhos:

  • através da boca.
  • através das fossas nasais. Se o véu palatino se achar levantado, impedirá que o ar escape para as fossas nasais, ressoando somente na boca; o fonema produzido será, então, oral (/a, e, i, o, u/; /p, b, s, z/); se, porém. O véu estiver abaixado, parte do ar sairá pela boca, parte penetrará nas fossas nasais, o que produzirá uma ressonância característica –a nasalidade –e o fonema será, então, nasal (/ ã, ẽ, ΐ, õ, ữ/ ; / m, n, nh/).

5. Vogais

São fonemas sonoros livres. Em sua produção as cordas vocais vibram (sonoros) e a corrente de ar não encontra nenhum obstáculo sensível até o exterior (livres).

Segundo a NGB, podemos classificar as vogais por quatro pontos de observação:

quanto à zona de articulação (onde);
quanto ao papel das cavidades bucal e nasal;
quanto à elevação da língua;
quanto ao timbre (vibração do som).


6. Explicação do quadro das vogais

Se, com a boca ligeiramente aberta, levantando o véu palatino (o que impede a passagem da corrente de ar para as fossas nasais), e a língua baixa, quase em repouso, contrairmos as cordas vocais que começam a vibrar, produziremos a vogal oral fundamental /a/, média quanto à zona de articulação, baixa quanto à elevação da língua.
Se formos elevando gradualmente a metade dianteira da língua em direção à parte anterior do palato, /a/ irá se transformar progressivamente em /é/, /ê/ e, na elevação máxima da línguas, em /i/: são as vogais anteriores; quanto à elevação à elevação da língua, /é/ (aberto) e /ê/ (fechado) são mediais; /i/ é alta.
Se, ao contrário, elevarmos a metade posterior da língua em direção ao véu, arredondando ao mesmo tempo os lábios, emitiremos as vogais /ó/, /ô/, /u/, denominadas posteriores: quanto à elevação da língua, /ó/ (aberto) e /ô/ fechado) são mediais; /u/ é alta.

Vogais nasais
Permanecendo abaixo do véu palatino (o que permite que a corrente de ar vá ressoar também nas formas nasais), as vogais são nasais (e em português não podem ser abertas): /ã/ é média, /ẽ/ e /ΐ/ são anteriores, /ỡ/ e /ữ/ são posteriores; quanto à elevação da língua, /ẽ/ e /õ/ são mediais, /ΐ/ e /ữ/ são altas.

Vogais tônicas, subtônicas e átonas; abertas, reduzidas

A vogal em que inicia o “acento tônico” (maior intensidade de enunciação) chama-se tônica; são átonas as vogais inacentuadas.
Em alguns vocábulos, principalmente se forem palavras derivadas, pode aparecer uma vogal de tonicidade secundária (eternamente, pozinho).
Somente nas vogais tônicas ou subtônicas é mais claro a distinção do “timbre” das vogais, que podem ser abertas ou fechadas; as átonas, às vezes, podem ter a diferenciação pelo timbre reduzido, e até anulada, chamando-se, neste caso, reduzidas. É tal a redução das vogais átonas finais, que desaparece a distinção entre e e i, o e u.

  • Sílaba –Semivogal –ditongos e tritongos
  • Sílaba é o fonema ou grupo de fonemas emitidos numa só expiração.

A base de toda a sílaba é sempre uma vogal.
Nunca pode faltar vogal em uma sílaba.
Nunca há mais de uma vogal em uma sílaba.



Mas... E o “ditongo”? Não é o encontro de duas vogais numa só sílaba?
Não...
Vejo, por exemplo, na palavra /pai/ = a uma só sílaba.
Qual é a base dessa sílaba, isto é, a vogal que se destaca? É o /a/. então o /a/ é a vogal.
E o outro som vocálico será também uma vogal?
Não...
Aquele outro som vocálico /i/, perceba, não é tão forte quanto o outro: é a semivogal.
Nessa palavra, pela ordem, aparece a vogal /a/ (som vocálico forte) e depois a semivogal /i/ (som vocálico fraco); portanto, o som decresceu.
A este encontro vocálico (vogal + semivogal) se dá o nome de ditongo decrescente. Se ocorrer o contrário (semivogal + vogal), com em his-tó-ria, sé-rie, será ditongo crescente. Se a vogal base da sílaba, for oral, o ditongo, então, também será oral; se a vogal for nasal, nasal também será o ditongo.

Exemplos:
Pai: ditongo decrescente oral
Pão: ditongo decrescente nasal

Se a vogal é ao mesmo tempo precedida e seguida de semivogal, há tritongo: i-guais (semivogal + vogal + semivogal).

Nota

Muito cuidado deverá tomar o aluno na análise fonológica de algum vocábulo. Em muitos casos aparecera ditongos que, graficamente, não se percebe ou, contrariamente, que é perceptível na grafia, mas reduzido na pronúncia.

Exemplos

Na segunda sílaba de também /tãbei/, aparece um ditongo decrescente nasal (/bei/). Veja que o som da consoante /m/ não existe; esta representa graficamente a semivogal /i/.
O contrário acontece, por exemplo, no encontro reduzido a /ô/ na pronúncia normal do Brasil: couve /côve/.

Hiato

Quando a sílaba terminada por vogal ou semivogal segue-se outra iniciada por um desses fonemas, a enunciação sucessiva de ambas produz um efeito acústico característico – o hiato.

Exemplos

Pi-a-da; qui-e-to; ru-í-do;co-or-de-na-ção.

7. Classificação das consoantes

Consoantes são fonemas para cuja produção a corrente de ar, ao contrário do que acontece com as vogais, encontra em algum órgão fonador embaraço decisivo à sua passagem. Note que esses fonemas são podem sozinhos ou apenas entre si formar sílabas em português, daí serem, denominados consoantes, ou seja, etimologicamente são fonemas “que soam juntos” (COM AS VOGAIS). Uma vogal pode sozinha construir uma sílaba: uma consoante, não.

I. Quanto ao modo de articulação, a NGB classifica as consoantes em:

Oclusivas: (junção completa de dois órgãos): /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/.
Constritivas (de emissão prolongável):
• Fricativas (fricção) : /s/, /z/, /x/, /j/, /f/, /v/.
• Laterais: (o ar escapa pelos bordos da língua): /l/, /lh/.
• Vibrantes: (uma ou várias vibrações): /r/, /rr/.

II. Quanto ao ponto de articulação, a NGB classifica assim:

Bilabiais (lábio contra lábio): /p/. /b/, /m/.
Labiodentais (lábio inferior + arcada dentária superior): /f/, /v/.
Linguodentais (língua + arcada dental superior): /t/, /d/, /n/.
Alveolares (língua + alvéolos): /s/, /z/, /l/, /r/.
Palatais (dorso da língua + palato): /x/, /j/, /lh/, /nh/.
Velares (raiz da língua + véu): /k/, /g/, /rr/.

8. Encontros consonantais

Tal como as vogais, as consoantes também podem encontrar-se agrupadas nos vocábulos.
Desses encontrados, distinguem-se:

1. os fonadores de consoantes + /l/ ou /r/, que constituem grupos reis, inseparáveis: pl; bl; br; tl; dr; cl; cr; gl; fl; fr; vr.

2. aqueles em que o 2º elemento não é /l/ nem /r/, que são disjuntos, isto é, separáveis: bd; ct; ft; tm; bs; dv; pt etc., em que cada consoante pertence a uma sílaba: rit-mo; ap-to etc.


9. Dígrafos

Não se deve confundir dígrafos com encontro consonantais. Dígrafo é o emprego de duas letras para a representação de um só fonema: passo, chá, manhã, palha, enviar, mandar.
Há dígrafos para representar consoantes e vogais nasais.
Os dígrafos para consoantes são os seguintes, com exceção de rr, ss, sc, sc, e xc.

Exemplos:

ch: chá sc: exceto
lh: malha rr: carro
nh: banha ss: passo
sc: nascer qu: quero
sc: nasça gu:guerra

Para as vogais nasais:

Exemplos:

am ou na: campo, canto
em ou em: tempo, vento
im ou in: limbo, lindo
om ou on: ombro, onda
um ou um: tumba, tundra

Ortografia


1. Preliminares

O alfabeto da língua portuguesa tem vinte e três letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, x, z. As letra k, w, y são empregadas somente em abreviatudras e símbolos internacionais de nomes estrangeiros e seus derivados.




2. Emprego do S

Na terminação -ês dos vocábulos que indicam origem, naturalidade, posição social.

Exemplos:

Francês, marquês, cortês, montês, japonês.


Nos femininos que tiverem o sufixo -esa, -isa.

Francesa, baronesa, japonesa, princesa, sacerdotisa, poetisa, profetisa (substantivo),duquesa, consulesa.

Nas palavras em -ase, -ise ou -ose, procedem do grego.

Exemplos:

Frase, fase, osmose, glicose, hidrólise, catálise.

Nos verbos derivados cujo sufixo é -ar e cuja palavra primitiva já tenha s.

Exemplos:

Avisar (aviso+ ar), analisar (analisa + ar), alisar, catalisar, frisar, paralisar, improvisar, pisar,arrasar, pesquisar.




Em todas as formas dos verbos pôr, querer, usar e seus derivados.

Exemplos:

Quis, quisemos, pus, puseste, pesemos, repus, compôs, usado etc.


Depois de um ditongo, usamos -s não z.

Exemplos:

Sousa, Neusa,coisa, pausa, lousa.


No sufixo –oso-, fonador de adjetivo qualificativo.

Exemplos:

Grandioso, formoso pavoroso, prazeroso, maravilhoso.



3. Emprego do Z


Nos nomes abstratos com sufixo -ez, -eza, derivados de adjetivos.

Exemplos:

Certeza (de certo), escassez (de escasso), invalidez (de inválido), belaza (de belo), lucidez (de lúcido), pobreza (de pobre), leveza (de leve), honradez, lividez.



Nos verbos derivados com o sufixo -izar.

Exemplos:
Canalizar (nala + izar), fartilizar (fértil + izar), civilizar, industrializar, profetizar.



Nos derivados em -zal, -zeiro, -zinho, -zito.

Exemplos:

Cafezal, cafezeiro, cafezinho, cafezito, irmãozinho, orfãzinha.




Palavras que possuem cognatos escritos com g ou c.

Exemplos:

Trazer (eu trago), rapaz (rapagão), audaz (audácia), veloz (velocidade).


Nos vocábulos derivados de outros terminados em -z.

Exemplos:

Cruzeiro (cruz + eiro), felizardo (feliz + ardo), enraizar (de raiz), apaziguar (de paz).

Nas palavras de origem arábicas, oriental e italiana.

Exemplos:

Azafama, azeite, azougue, azeviche, bazar, ojeriza, vizir, bizantino, gazeta.



4. Emprego do J

Nas palavras de origem indígena, africana ou popular.

Exemplos:

Canjica, jibóia, jequitibá, pajé, jenipapo, Moji, jeca, cafajeste, jiló.



5. Emprego do “Ç” (não “SS” nem “S”)


Nas palavras de procedência árabe, indígena ou africana.

Exemplos:

Açúcar, açude, Piraçununga, Paiçandu, alcaçuz, almoço, caiçara, camurça, muçulmano, Paraguaçu.


6. Emprego do X


Depois de ditongo emprega-se x (não ch).

Exemplos:

Trouxa, ameixa, deixar, caixa, afrouxar, baixela, baixo, feixe.


Nos vocábulos de origem indígena ou africana.

Exemplos:

Abacaxi, xavante, caxambu (dança negra), caxangá.


Depois da sílaba -em.

Exemplos:

Enxada, enxaguar, enxaqueca, enxergar, enxofre, enxotar, enxoval, enxurrada, enxugar.

Exceções:

Encher (e cognatos); palavras derivadas de outras escritas com ch (encharcar –de charco; enchouriçar –de chouriço; enchova; enchanboado).




7. Emprego do H

No final de certas interjeições.

Exemplos:

Ah!, oh! (interjeição que denota surpresa, espanto; não deve ser confundida com a interjeição ó, vocativa), ih! etc.
No interior de vocábulos nos três casos seguintes: na formação de digramas ch, lh, nh (cacho, alho, molhar, companhia)
Quando, em palavras compostas, o segundo elemento, iniciando por h, une-se ao elemento anterior por meio de hífen (anti-higiênico, luso-hispânico, super-homem, pré-história, sobre-humano etc).
Nos compostos sem hífen desaparecem o h (reaver, desonesto, desumano etc).
No topônimo Bahia (nome de Estado). Os derivados, entretanto, não conservam o h: baiano, baiana.
Emprega-se o h no início de palavras por força da etimologia do vocábulo (harpa, hindu, humilde, horta, hombridade, hosana etc)

8. Particularidades do emprego do H

Conquanto possuírem h etimologicamente, escreve-se sem essa letra algumas palavras, em virtude de ser a grafia consagrada pelo uso. Assim,: erva, inverno.
Entretanto, seus cognatos de formação conservam o h (hibernar, herbívoro).
Por derivar de uma forma latina vulgar, grafa-se também sem h inicial a palavra. Espanha; hispano e hispânico, porém, conservam o h por provirem de forma existente no latim clássico.
Quando não se comprova, etimologicamente, o h inicial, esta letra não aparece em português. Assim, grafar-se-á: úmido, unidade, ombro, iate, arpejo, ontem etc.
Em virtude de adoção convencional, na grafia de certas interjeições (hã? hem? hui! etc).

9. Emprego de iniciais maiúsculas

Usamos iniciais maiúsculas:
Na primeira palavra de período ou citação (Ele veio hoje).
Nos substantivos próprios (Brasil, Paulo, Pedro).
Em nomes de épocas históricas, datas e fatos importantes (Idade Média, Natal, Ano Novo).
Em nomes de altos cargos e dignidades (Papa , Presidente da República).
Em nome de lugares (Rua Treze, Bairro Central).
Em nome de artes, ciências, títulos (Medicina, Os Lusíadas).
Nas expressões de tratamento (Vossa Senhoria, Sua Excelência).
Nos nomes dos pontos cardeais quando designam regiões (povos do Sul, o Nordeste brasileiro).
Nos nomes de altos conceitos religiosos ou políticos (Igreja, Nação, República).
Nos nomes comuns personificados (a Morte,o Amor).
Nos demais casos usa-se inicial minúscula (carnaval, março, inglês, ave-maria).

10. Emprego do “E” ou do “I”

Verbos em UIR ou UAR

Os verbos terminados em uir apresentam a 2º e 3º pessoa do singular do presente do indicativo e a 2º pessoa do singular do imperativo em i. Ex.: possuis, possui (possuir); constituis, constitui(constituir); contribuis, contribui (contribuir).
Os verbos terminados em uar apresentam-se no presente do subjuntivo em e. Ex.: continues, continue (continuar); atenues, atenue (atenuar); atues, atue (atuar); efetues, efetue (efetuar).
Os ditongos cuja grafia antiga era ae, oe devem ser escritos com i. Ex.: Morais, Góis, sói, corrói etc.

Observar a grafia:

acarear geada casimira
argênteo gradessíssimo cabriúva
arrepio mexeria crânio
candeeiro mexerico criação
carestia mimeógrafo discrição

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